“O VOO” DISCUTE ÉTICA E VERDADE À LUZ DE UMA TRAGÉDIA.

Ética, verdade e honestidade. Estes valores tão fundamentais, mas que às vezes parecem tão em desuso, são discutidos de maneira forte e envolvente em “O Voo”, filme que marca a volta do diretor Robert Zemeckis ao cinema, digamos, “de carne e osso”, após suas recentes empreitadas recheadíssimas do chamado CGI (Computer Generated Imagery). Havia 12 anos, desde “O Náufrago”, que Zemeckis não fazia um “live action”, ou seja, filme com gente de verdade filmada normalmente.

Agora, ele conta a história de Whitaker (Denzel Washington, eficiente como sempre), um piloto de jatos comerciais que sabe tudo e mais um pouco de sua profissão, mas que não consegue resolver seu problema de alcoolismo. Quando o pior acontece, instala-se uma grande questão: seguir a trilha mais fácil de uma mentira aparentemente inofensiva, ou mergulhar fundo na verdade, doa a quem doer?

“O Voo” chama a atenção pela maturidade de seus roteiro e direção. A história escrita e roteirizada por John Gatins, que também roteirizou “Gigantes de Aço”, foge pelo menos um pouco das cansativas formulações repetitivas das quais o cinemão americano vem sofrendo ultimamente. Veja que incrível: o filme não tem cena de perseguição na meia hora final e nem termina com movimento de grua! Raridade. Ao mesmo tempo, Zemeckis aposta nas boas interpretações de todo o seu elenco, e num estilo sóbrio de direção, sem apelar para rasos subterfúgios superficiais que facilmente poderiam surgir dentro de uma trama que envolve o trágico tema de acidentes aéreos.

Tanto que Zemeckis opta por mostrar a cena-chave do acidente (ótima, por sinal) como se tivesse sido tomada pelo celular de uma testemunha casual, abrindo mão de muitos dos requintes (às vezes de crueldade) que a tecnologia atual proporciona. Note que no exato momento da queda, inclusive, duas pessoas passam diante da “câmera”, tornando o que é sugerido mais instigante do que é efetivamente mostrado.

Em outras palavras, trata-se de um filme adulto, de emoções maduras. Não é uma aventura estilo “Aeroporto”, como muitos poderiam supor, mas sim o drama de um homem mergulhado em suas próprias fraquezas e tragédias.

No final do filme, a constatação de que certamente há outros “Voos” a serem alçados, além do mais óbvio.