“OH LUCY!”, RETRATO AGRIDOCE DA SOLIDÃO.

Por Celso Sabadin.

Gosto de ser surpreendido. Principalmente no cinema. Por isso faço o máximo para não ver nenhum trailer antes de ver o filme. Infelizmente, vi o trailer de “Oh Lucy!” antes de assisti-lo, o que prejudicou muito minha experiência. Cada vez mais me deparo com trailers que são verdadeiros resumos do longa que anunciam, mostrando cenas-chave e dando irritantes spoilers. Uma vez li que tal tendência foi detectada numa pesquisa realizada nos Estados Unidos, país que, segundo a tal pesquisa, o público gosta de saber tudo sobre o filme antes de decidir vê-lo por inteiro. Não sei se isso é verdade, mas sei que cada vez mais os trailers estão estragando os filmes. Lembrando que “spoiler”, em inglês, significa “estragar”. Não é por acaso.

Assim, por mais que eu tente, não consigo aqui agora fazer uma crítica entusiasmada de “Oh Lucy!”. Acredito que o filme até deva ser bom e emocionante, mas é muito desanimador ficar vendo algo já esperando e sabendo quase tudo o que virá pela frente. É como assistir a um videotape de um jogo de futebol do qual já se sabe o resultado.

Mas vamos lá. Coproduzido por Japão e Estados Unidos, “Oh Lucy!” conta a história de Setsuko (Shinobu Terajima, ótima), uma mulher solitária que se encanta por John (Josh Hartnett), seu professor de inglês. A carência da protagonista a leva a situações extremas, em tentativas desesperadas de superar tanto a monotonia que pauta sua vida, como uma mágoa do passado causada pela sua própria irmã.

”Oh Lucy!” é o longa de estreia de Atsuko Hirayanagi, que ainda assina o roteiro, baseado num curta metragem também de sua autoria. Um roteiro que, por sinal, pode até parecer desconjuntado e por vezes bastante inverossímil, mas talvez seja exatamente deste estranhamento que brotem as melhores impressões sobre o filme. Sem a velha necessidade comercial de explicar tudo e aparar todas as arestas, “Oh Lucy!” por vezes parece tão perdido quanto a sua protagonista, o que acaba lhe proporcionando uma simpática e bem-vinda empatia.

Uma curiosidade: o ator Will Ferrell, geralmente associado a comédias, é um dos produtores de “Oh Lucy!”, que acaba se revelando num intrigante drama agridoce sobre a solidão.

Curta o filme sem ver o trailer. Estreia em 28 de junho.