OMAR SY PRODUZ E ESTRELA DRAMA DE GUERRA ANTI-COLONIALISTA.
Por Celso Sabadin.
As chagas abertas pelo sistema colonial parecem que jamais se fecharão. E a dolorosa questão dos refugiados está aí, todos os dias, nos lembrando através da mídia das trágicas consequências desta infame política de violência e dominação.
“Herói de Sangue” – que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 13 de julho – não é exatamente sobre refugiados, mas proporciona uma breve ideia da imensidão da força destrutiva que governos europeus despejaram e despejam sobre as culturas africanas, desde há muito tempo.
Tudo acontece durante a I Grande Guerra, momento em que a França empreende uma verdadeira caçada humana contra jovens senegaleses com o objetivo de forçá-los a lutar no conflito mundial. Os africanos eram arrancados de suas famílias, arrastados como animais e atirados – com pouco ou nenhum treinamento – para lutar pela França no front europeu, contra a Alemanha.
Em “Herói de Sangue”, os roteiristas Olivier Demangel e Mathieu Vadepied (este também diretor do filme) criam a história de Thierno (Alassane Diong), um entre os vários jovens senegaleses que são sequestrados e levados para o campo de guerra. Desesperado, seu pai, Bakary (interpretador por Omar Sy, tio de Alassane na vida real), alista-se voluntariamente no exército francês, na esperança de poder ajudar o filho.
No meio aos horrores e à destruição da guerra, pai e filho desenvolverão uma conturbada relação, na qual o conflito entre a cultura humanística ancestral e a falsidade da ascensão social via mentiras do poder emergerão em todo seu potencial destrutivo.
Além de viver o papel principal, o midiático ator Omar Sy, – mundialmente conhecido por “Intocáveis” e “Lupin” – também é um dos produtores do longa. Como descendente de senegaleses, ele afirma: “Não entendo por que a história dos soldados senegaleses, ou soldados de outros lugares, foi tão raramente contada. Não há nenhuma explicação. Tudo o que sei é que você não costuma ouvir sobre ela. É como se falássemos da África pós-colonial como se não houvesse África antes dela. É esse `antes´ que me interessa”, conclui.
Coproduzido por França e Senegal, “Herói de Sangue” é competente ao mostrar – sem caricaturizações simplificadoras – os mecanismos torpes de cooptação dos corações e mentes dos jovens africanos, visando engajá-los em uma luta desigual, que sequer pertence a eles. Apenas mais uma entre as tão variadas ferramentas que o poder colonial utiliza para desestruturar e destruir as culturas locais que violentamente domina.
“Herói de Sangue” foi exibido na Seleção Oficial do Festival de Cannes em 2022, concorrendo ao prêmio “Un Certain Regard”, e venceu a categoria de Melhor Ator no Barcelona-Sant Jordi International Film Festival.