“ONDE QUER QUE VOCÊ ESTEJA” ABORDA COM SENSIBILIDADE A QUESTÃO DOS DESAPARECIDOS.

Por Celso Sabadin.
 
A cada ano, mais de 80 mil pessoas desaparecem no Brasil. São dois estádios de futebol lotados. São dezenas de milhares de familiares e amigos desesperados com os mais variados tipos de sumiços, a princípio, sem motivos nem explicações. Dolorosos mistérios do dia-a-dia.
O filme “Onde Quer Que Você Esteja” – estreia de Bel Bechara e Sandro Serpa na direção de longas – aborda este problema tão perturbador. Não de forma alarmista ou sensacionalista, como o tema poderia sugerir, mas sim de maneira poética e repleta de humanismo. O projeto deriva do curta metragem de mesmo nome, dos mesmos diretores, produzido em 2003.
 
O roteiro cria uma certa Rádio Cidade Aberta, que transmite o programa que dá nome ao filme. Todas as semanas, reúnem-se nos bastidores e no estúdio do programa “Onde Quer Que Você Esteja” dezenas de pessoas que não perdem as esperanças de reencontrar seus entes queridos, veiculando na incerteza das ondas radiofônicas os mais diversos apelos que ninguém jamais saberá ao certo onde chegarão. São pequenos pedaços de esperança lançados ao ar, como garrafas incertas jogadas ao oceano.
A insistência, o desalento, o desconsolo e – claro – a esperança de quem anseia por notícias de seus desaparecidos acabam gerando um grupo de personagens unidos pela dor comum, e catalisados pela fluidez errante das ondas do rádio. Na emissora, vidas se cruzam, amizades se formam, breves existências se entrelaçam, dores se apoiam, algumas com finais felizes, outras apenas sem finais.
Como geralmente acontece no chamado “filme coral” (aquele onde vários personagens têm pesos dramatúrgicos similares, sem a configuração de um protagonismo mais destacado), há tramas mais e menos envolventes.
 
Destaque para a trilha sonora de André Abujamra e Eron Guarnieri, e para as ótimas cenas da capital paulista enfatizando seus vazios – na contramão do lugar comum de mostrar multidões – que sublinham simbolicamente a questão dos “desaparecidos”, potencializando as diferentes solidões urbanas e humanas.
 
No elenco, Débora Duboc, Leonardo Medeiros, Sabrina Greve, Gilda Nomacce, Juliana Mesquita e Rita Batata, entre outros.