“OS AGENTES DO DESTINO” É FICÇÃO COMPETENTE DO MESMO AUTOR DE “BLADE RUNNER”.

Talvez uma boa parte do público em geral não conheça Phillip K. Dick pelo nome. Mas com certeza muita gente curte a obra dele, mesmo sem conhecê-lo. Foi Dick o autor de contos e romances de ficção científica que originaram, entre outros, os filmes “O Pagamento”, “Minority Report – A Nova Lei”, “O Vingador do Futuro” (que inclusive ganhará uma refilmagem para 2012) e, principalmente “Blade Runner”. É interessante notar que este grande autor americano só foi descoberto pelo cinema em 1982, ano de “Blade Runner’, exatamente o ano de sua morte, aos 53 anos.

Chega agora ao cinema um novo filme baseado na obra de Philip K. Dick: “Os Agentes do Destino”, rodado a partir do conto “Adjustment Team”, que nas telas americanas virou “The Adjustment Bureau”. O ponto de partida é dos mais interessantes, aliás, como sempre são os textos do escritor. Parte-se do pressuposto da existência de uma grande equipe de agentes não humanos que há séculos toma conta dos destinos da Humanidade aqui na Terra. São estes agentes que fazem com que todos nós, por exemplo, percamos um ônibus, ou nos atrasemos alguns minutos para um compromisso, ou derrubemos café na camisa… tudo em nome de uma grande ordem já previamente planejada que, assim como todos os grandes planejamentos, necessitam de alguns ajustes aqui e ali, para que tudo continue correndo bem. Quando estes agentes do destino falham, grandes problemas acontecem. E, sim, às vezes eles falham,

Quem vai se revoltar contra o próprio destino e desafiar o tal Bureau (mesmo sem, a princípio, saber da sua existência), é David Norris (Matt Damon), candidato ao Senado americano que se apaixona perdidamente pela bela dançarina Elise (a inglesa Emily Blunt, de “O Lobisomem”). Por que? Bom, aí só vendo o filme.

Em mais uma nova tentativa de ludibriar o público e conseguir mais bilheteria, o poster e o trailer promocional tentam vender “Os Agentes do Destino” como se fosse uma aventura de ação, no estilo “A Identidade Bourne”. Não é. É até melhor. O filme não é aquela correria desenfreada que o trailer faz supor, mas sim uma interessante discussão sobre a maneira através da qual nós encaramos (ou fugimos) das várias alternativas e desafios que a vida nos propõe todos os dias. Ou seja, o famoso livre arbítrio. E sem perder o foco de entretenimento que este tipo de produção igualmente propõe. Claro que no finalzinho tem sempre aquela narração em off explicando a “moral da história” para quem preferiu comer pipoca a prestar atenção no enredo, mas nada que estrague o programa, Aliás, Hollywood tem se especializado em fazer este tipo de filme onde a bula vem junto. Fazer o que, né?

É uma espécie de ficção científica sem robôs gigantes nem naves interplanetárias, mas apenas com a presença destes agentes secretos sempre usando chapéus. Tipo uns… Men in Hat. Ou uma “A Identidade Bourne” com menos corre-corre e mais ideias. Uma promissora estreia como diretor do roteirista e produtor George Nolfi, que, não por acaso, também foi um dos roteiristas de “O Ultimato Bourne”.
A lamentar apenas que – mais uma vez – a sessão para a imprensa foi na sala 7 do Cinemark Shopping Paulista, aquela escura e sem brilho, que já devia ter torcado a lãmpada do projetor há tempos, e que – com a janela errada – corta as cabeças dos protagonistas no alto da tela.