“OS ANARQUISTAS” E A PODRIDÃO DAS DELAÇÕES.

Por Celso Sabadin.

Em determinada cena do filme “Os Anarquistas”, durante uma reunião política, alguém questiona o fato de um trabalhador querer ser presidente de um sindicato: “Hoje você se torna presidente do sindicato, daqui a dois anos vira político e daqui a três estará votando leis contra nós, trabalhadores”, brada um dos personagens. Só lembrando que o filme se passa em Paris, em 1899, provando que certas coisas são imutáveis, no tempo e no espaço.

Com roteiro de Gaelle Macé e do diretor Elie Wajeman (a mesma dupla de “Alyah”), “Os Anarquistas” mostra o jovem Jean Albertini (Tahar Rahim, o imigrante “brasileiro” de “Samba”) sendo aliciado pela polícia francesa para se infiltrar num grupo de anarquistas com o objetivo de se tornar informante. Simpático e inteligente, o rapaz desempenha bem sua sórdida função de alcagueta, mas cai no erro de misturar delação com sentimento, e se apaixona pela bela anarquista Judith (Adèle Exarchopoulos, de “Azul é a Cor Mais Quente”), comprometendo a missão.

Ainda que ambientado no século 19, o filme é totalmente atual nestes tempos de acaloradas discussões políticas. Ao questionar a eficiência e a justiça dos governos formais, o conceito básico do Anarquismo, com suas mais diversas variantes, renasce revigorado, na medida em que as instituições se mostram em acentuada decadência. A utilização de músicas contemporâneas como contraponto à bela ambientação de época, calcada em cores escuras e sombras marcantes, reforça ainda mais a contemporaneidade das ideias discutidas no roteiro. Paralelamente, a história de amor que se desenvolve entre os protagonistas ajuda a humanizar o tema, e amplia o poder de sua mensagem que apregoa, em última instância, que dedo duro tem mais é que se lascar. E quem há de discordar?

A estreia é em 19 de maio.