“OS CAMPOS VOLTARÃO” RESGATA O GRANDE CINEMA ITALIANO.

Por Celso Sabadin.

 

Demoram-se alguns instantes para se perceber se a fotografia de “Os Campos Voltarão” é de fato colorida, ou em preto e branco. Ou talvez em alguma espécie de sépia. Demoram-se alguns instantes para se discernir a rica gama de personagens, definir exatamente quem é quem, quem é soldado e quem é oficial entre aqueles homens encapotados até seus narizes na tentativa de  pelo menos minimizar o frio que deixa lá fora uma camada de metros de neve. Demoram-se alguns instantes para se dar conta das proporções da armadilha gigantesca em que estes protagonistas estão metidos. Mas não demora muito, quase nada, para se perceber que, ao assistir a “Os Campos Voltarão”, estamos sendo brindados com mais uma obra-prima de Ermanno Olmi.

 

O filme começa nos encantando com belíssimas imagens de um congelante frio noturno a céu aberto que ganha dimensão quase táctil através das lentes de Olmi. Na imensidão da noite muda, o canto solitário de um soldado dá um pouco de calor aos ânimos da sua tropa. Há aplausos. Aos poucos somos apresentados àqueles combatentes italianos que tentam levar a cabo uma missão suicida em terras austríacas, durante uma Guerra Mundial que, poucos anos mais tarde, seria chamada de Primeira.

Patentes, hierarquias, sonhos, entes queridos deixados em casa, a vontade de voltar, o horror de ordens dadas por quem nunca esteve em combate. Tudo emerge aos poucos, em seu tempo, em diálogos quase cochichados que desafiam o silêncio e a espera do campo de batalha. Um silêncio sepulcral, praticamente uma prece, uma benção. Um contraponto que potencializa ao máximo o poderio sonoro e destrutivo das bombas que inevitavelmente chegarão.

A imensidão da noite e da neve emolduram um inimigo sempre temido e jamais visto. Dentro, a claustrofobia de trincheiras que remetem diretamente a túmulos.

A direção e o roteiro de “Os Campos Voltarão” são de Ermanno Olmi, do aclamado “A Árvore dos Tamancos”. Inspirado por histórias sobre a I Guerra que o pai do diretor lhe contava, o filme foi indicado para 8 David di Doatello, mas acabou não sendo premiado. Ganhou o Prêmio da Critica na Mostra de São Paulo. Sua duração não chega a uma hora e meia. E é um filmão!

A estreia, com exclusividade no CineSesc, foi em 7 de julho.