OS CHOQUES CULTURAIS DE “CHARUTO DE MEL”.

Por Celso Sabadin.

A estreia da parisiense Kamir Aïnouz (não confundir com o brasileiro Karim Aïnouz, que é meio-irmão dela) na direção de longas é das mais promissoras.

Em “Charuto de Mel”, Kamir roteiriza e dirige a história de Selma (Zoé Adjani, ótima, sobrinha de Isabelle Adjani), adolescente francesa, filha de argelinos, na difícil luta pela busca de sua identidade e lugar no mundo. Se tal procura já não é fácil para todo e qualquer adolescente, a situação se complica para quem transita entre duas culturas nem sempre amistosas entre si: a árabe de origem e a colonial francesa de assentamento.

No caso de Selma, há ainda outro elemento complicador: ela “não parece argelina”, como vivem lhe dizendo – preconceituosamente – todos os franceses com quem ela cruza. Junte-se a isso uma mãe (Amira Casar) obsessiva em arranjar um “bom casamento” para a garota, e um pai (Lyès Salem) que vive chantageando sua esposa, ameaçando-a com o divórcio.

Em algum ponto – ou em vários – as disfuncionalidades destas relações familiares terão de ser rompidas, para que a protagonista consiga entrar no mundo adulto com algum equilíbrio. Se for possível.

Certamente colocando uma boa dose de vivências pessoais em sua obra, Kamir Aïnouz realiza um filme que consegue tratar destes temas tão recorrentes sem cair em armadilhas dramatúrgicas convencionais, ao mesmo tempo em que constrói sua protagonista com solidez, empatia e credibilidade.

Produzido por França, Bélgica e Argélia, e premiado no festival de Sevilha, “Charuto de Mel” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta, 11/11.