OS COXINHAS VÃO AMAR E OS PETRALHAS VÃO ODIAR “A VIAGEM DE YOANI”.

Por Celso Sabadin.

Nesta nossa era de celebridades instantâneas e de extrema polarização de opiniões, a blogueira e ativista cubana Yoani Sánchez, simultaneamente nas qualidades de protagonista e de objeto das atenções mundiais, torna-se o cerne do documentário brasileiro “A Viagem de Yoani”, dirigido a quatro mãos por Peppe Siffredi e Raphael Bottino.

O filme se fixa nos tumultuados dias que Yoani esteve em nosso país, provocando aplausos e vaias, amores e ódios e – como não podia deixar de ser – as mais inflamadas manifestações tanto por parte da direita como por parte da esquerda. A exceção fica por conta do então Senador Eduardo Suplicy, a única voz equidistante a tentar proporcionar um pouco de equilíbrio em meio a tanta passionalidade.

Não se trata de um filme imparcial e, antes que os comentários comecem a pipocar ruidosamente no Facebook, é importante deixar bem claro que isso não é nenhum problema: filmes não são feitos para ser imparciais. “A Viagem de Yoani” é totalmente centrado na figura da blogueira. É ela que dita o tom do documentário, é ela que comanda, e as ideias aqui expostas são as dela, o que obviamente vai provocar a alegria dos coxinhas e a ira dos petralhas. Mesmo porque seria complicado ser diferente, já que o documentário tem o apoio da TV Cultura de São Paulo, órgão de imprensa bastante identificado com a direita.

A direção foi hábil ao tentar emprestar um tom de imparcialidade ao filme: as opiniões dissonantes a Yaoni existem, sim, mas aqui são fragmentadas, por vezes mostradas apenas como vozes em off sem rostos, apresentadores de TV sem identificações, ou rápidos flashes de planos curtos. Retrata-se a esquerda de maneira impessoal e quase apócrifa, impossibilitando assim a empatia com o público. Já Yaoni surge em generosos closes e largos sorrisos tranquilos, em falas articuladas e gestos serenos. É coerente, pois o filme se chama “A Viagem de Yoani”. É o filme dela, e seus diretores têm todo o direito de realizá-lo assim.

Perde-se, porém a oportunidade de se aprofundar um pouco mais no assunto, de se discutir com mais nuances a tão polêmica questão cubana, de se ouvir vozes que tivessem mais a contribuir. Ao focar especificamente na viagem da Yaoni e nas reações que isso provocou, o filme por vezes passa a sensação de ser um média metragem esticado para longa, às vezes redundante (Yaoni fala três vezes que gostaria de ver em Cuba a mesma diversidade de opiniões que viu no Brasil) e por vezes sufocado por uma profusão exagerada de maneirismos gráficos e efeitos visuais que poderiam ser compensados por um pouco mais de conteúdo. O que não tira, porém, seu grande e inquestionável mérito de registrar este importante momento histórico e político do velho embate esquerda/direita, bem como as paixões que tudo isso ainda provoca na sociedade.

Fora que as imagens feitas em Cuba também são belíssimas. Vale ver.