“OS EUA CONTRA JOHN LENNON” É UMA EMOCIONANTE AULA DE HISTÓRIA DO SÉCULO 20.

Qual o país que não gostaria de receber John Lennon como morador? Por incrível que pareça, existe uma resposta: Estados Unidos. Nos anos 70, momento em que os Beatles não mais existiam, o inglês Lennon fixou residência em Nova York, e foi duramente combatido pelo governo do então Presidente Nixon. Os conservadores norte-americanos achavam que aquele roqueiro cabeludo era uma má influência para a juventude local, e fizeram de tudo para infernizar a vida dele.

Esta é uma das incríveis histórias contadas, mostradas e comprovadas no ótimo documentário “Os EUA Contra John Lennon”, dirigido a quatro mãos por David Leaf e John Scheinfield. Produzido em 2006, o filme foi exibido no Brasil na abertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, já há dois anos. Mas não importa: suas imagens continuam atuais, e sempre continuarão, pelo menos enquanto existir alguma guerra no mundo.
Com o final da carreira musical dos Beatles, o sempre polêmico e irriquieto Lennon passou a ter mais tempo para se dedicar às suas atividades contestatórias contra os desmandos das injustiças sociais e da política internacional. E nem poderia ser diferente. Afinal, alguém que compôs “Imagine”, “Gimme Some Truth”, “Power To The People” e “Give Peace a Chance” não poderia mesmo ser visto com bons olhos por um governo que teimava em jogar napalm e matar milhares de pessoas na desastrada campanha do Vietnã.

São depoimentos atuais, imagens de arquivo cativantes e entrevistas da época (incluindo impagáveis provocações de Lennon) que costuram um riquíssimo painel daquele momento de extrema ebulição social. Uma inquietação que balançava os alicerces políticos não apenas dos Estados Unidos, como também do mundo inteiro que começava a despertar de maneira mais atenta para a forma predatória pela qual a principal potência ocidental do planeta regia seus “negócios”.

Para quem só conheceu o mundo corporativo de hoje – onde praticamente não existe mais nenhum tipo de ação espontânea sem que exista um grande patrocinador por trás – soa até inacreditável que Lennon e sua esposa Yoko tenham financiado, do próprio bolso, cartazes e outdoors com os dizeres “War is Over (If You Want It)”. Mas foi justamente o que aconteceu. E as imagens, ainda que documentais, beiram o inacreditável. Evidentemente os mais céticos (ou os mais corporativos?) podem até argumentar que tudo não passou de uma campanha institucional e promocional da própria dupla, mas como negar o impacto disso tudo sobre o efetivo fim da Guerra?

Na base do “make love, not war“, o documentário mostra que o casal, sozinho, fazia mais barulho que qualquer ONG, numa época em que o termo sequer existia.
Para quem viveu a época, o filme é dos mais emocionantes. Para quem não viveu, é uma aula de história, sociologia e política dos anos 70.