“OS FANTASMAS DE ISMAEL” E AS ARMADILHAS DOS RELACIONAMENTOS.

Por Celso Sabadin.

Medo. Este é o tema presente em cada fotograma de “Os Fantasmas de Ismael”, novo filme de Arnaud Desplechin, o mesmo de “Reis e Rainhas”. Não o medo epidérmico das produções de terror que qualquer título iniciado com a palavra “Fantasma” pode ensejar. “Os Fantasmas de Ismael” é, sim, um filme de horror, mas do horror psicológico, dos medos que não nos matam diretamente, mas que transformam nossa vida em morte.

Ismael (Mathieu Amalric) é um diretor de cinema tecnicamente” viúvo: sua esposa está desaparecida há 20 anos, o corpo nunca foi encontrado, e legalmente ela foi dada como morta. Ismael vive com o medo deste corpo insepulto, desta lápide inexistente, deste assombro eternamente presente. Um medo que compartilha com o sogro Henri (o veterano húngaro Laslo Szabó, que estava há quase 10  anos sem filmar), que por sua vez convive com o medo de ver finalmente confirmada a notícia que ele prefere negar: a da morte da filha. Arisco emocionalmente, Ismael entra – com medo – num relacionamento com  Sylvia (Charlotte Gainsbourg), obrigada a administrar não apenas os fantasmas do passado de seu novo companheiro como os seus próprios. Ironicamente, Sylvia é astrofísica.

Quando tudo já parece inseguro o suficiente, a supostamente morta esposa Carlotta (Marion Cotillard) retorna (não é spoiler). Nada de retornos cinematograficamente espetaculares ou particularmente fantasmagóricos. É um retorno tanto cru quanto devastador. E sobre esta soma de todos os medos o filme constrói um perturbador ensaio sobre a fragilidade das relações humanas e, principalmente, dos seus laços afetivos.

Um intenso trabalho que comove e transgride, mas que perde parte de sua força nos momentos em que se debruça na subtrama do filme dentro do filme que está sendo realizado por Ismael. E o elenco é de encher os olhos e as sensibilidades!

Estreia em 3 de maio.