OS GRANDES BODANZKY E GUERRA TÊM ESTREIAS EM CINEMAS NESTA QUINTA, 13/02.
por Celso Sabadin.
A boa fase atual do cinema brasileiro vai muito além dos sucessos de bilheteria de “Ainda Estou Aqui”, “O Auto da Compadecida 2” e “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”. Ótimos longas de menor repercussão (mas muita qualidade) também chegaram ao nosso circuito recentemente, e muitos outros estão por vir.
Potencializando este grande momento, dois dos cineastas mais respeitados e representativos da história do nosso cinema estreiam seus novos filmes nesta quinta-feira, 13 de fevereiro: Jorge Bodanzky e Ruy Guerra.
AS CORES E AMORES DE LORE
Talvez as gerações mais novas conheçam Jorge Bodanzky como “o pai da Laís”, mas quem já transita pela cena cinematográfica há mais tempo certamente sabe da importância da presença deste grande cineasta no nosso circuito exibidor.
Assim, torna-se obrigatório o registro da estreia em cinemas de “As Cores e Amores de Lore”, longa em que Jorge mergulha no universo de Eleonore Koch, artista plástica alemã radicada no Brasil. Muito mais que uma “discípula de Volpi” – como sempre citam suas biografias – Eleonore foi uma mulher à frente do seu tempo, e grande amiga de Jorge Bodanzky, o que confere um mais que bem vindo caráter de intimidade e descontração ao filme.
O longa é um registro artístico e poético marcado pela sinceridade e pela transparência. Afetivamente conduzida pelo documentarista, Eleonore abre seu coração sobre exílios, solidões, saudades e realizações, tudo pontuado por fotografias, antigos cartões postais e inúmeras imagens dos esboços, desenhos e pinturas da artista, todos organizados e classificados com um espantoso rigor digno de uma biblioteca.
O filme chega aos cinemas em Belo Horizonte, Niterói, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória.
Quem dirige
Jorge Bodanzky começou sua carreira como repórter fotográfico e trabalhou para o Jornal da Tarde, Donauzeitung Ulm, O Estado de São Paulo e as revistas Manchete, Realidade e para agência Maitiry, com Fernando Lemos. Como diretor e câmera, realizou documentários e filmes com Hector Babenco, Antunes Filho, Maurice Capovilla, José Agripino de Paula, Reinhard Kahn, entre outros. É de 1975 o seu mais conhecido e premiado filme,“Iracema, uma Transa Amazônica”, produzido para a ZDF, da Alemanha. Em 2022, aos 80 anos, foi o grande homenageado do 55º Festival de Brasília. No mesmo ano, recebeu o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro pela série Transamazônica: uma estrada para o passado (2021).
AOS PEDAÇOS
Já “Aos Pedaços”, ficção do veterano Ruy Guerra que também chega aos cinemas neste 13 de fevereiro, traz uma proposta diferenciada e autoral.
Com roteiro de Luciana Mazzotti e do próprio cineasta, o longa gira em torno de Eurico (Emilio de Mello), um homem perturbadoramente dividido entre duas residências idênticas, habitadas por suas duas esposas de nomes quase iguais: Ana e Anna (Simone Spoladore e Christiana Ubach). A visita de um pastor evangélico (Julio Adrião) e a certeza de que será assassinado por uma de suas mulheres contribuem ainda mais para amplificar os sentimentos de dicotomias e contradições do personagem. Que, não por acaso, carrega o sobrenome de Cruz.
“Aos Pedaços”, porém, não é o tipo de filme facilmente recomendável para todos os públicos. Experimental e radical em sua concepção gráfico/visual, o longa flerta diretamente com a linguagem teatral, tanto na própria estrutura do projeto, como em seu estilo de interpretação.
Num belo preto e branco de alto contraste e baixa exposição, a fotografia assinada por Pablo Baião é um dos destaques do longa, que venceu o Kikito de Melhor Fotografia no Festival de Gramado, além de ter sido premiado como Melhor Direção e Melhor Som, no mesmo evento.
Quem dirige
Nascido em Moçambique em 1931, Ruy Guerra radicou-se no Brasil em 1958, tornando-se um dos mais importantes nomes do nosso cinema logo em seu primeiro filme: Os Cafajestes (1962). Dirigiu também Os Fuzis (1964),Tendres Chasseurs (1969), Os Deuses e os Mortos (1970) e A Queda (1978). Em 1980 regressou a Moçambique, onde rodou Mueda, Memória e Massacre, o primeiro longa-metragem desse país. Em 1982, rodou no México, Erêndira, baseado em Gabriel García Márquez. É o diretor também de Ópera do Malandro (1985), Kuarup (1989) e Estorvo (2000), entre outros.