“OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES” É CINEMA SUECO COM TEMPERO AMERICANO.

Num primeiro momento, a simples menção de que um filme é co-produzido por Suécia, Dinamarca, Alemanha e Noruega pode provocar no imaginário coletivo a ideia de que se trata de uma produção lenta, talvez fria, provavelmente arrastada. Se este for seu caso, pode deixar o preconceito de lado: “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” é um drama policial investigativo com mais sabor de cinema americano que propriamente de europeu.

Baseado no best seller homônimo de Stieg Larsson, o filme tem como personagem principal o jornalista investigativo Mikael, contratado pelo poderoso magnata Henrik para uma missão, no mínimo, curiosa: descobrir o paradeiro de sua sobrinha Harriet, desaparecida, talvez morta, em 1966. O milionário tem razões para acreditar que foi alguém de sua própria família – cruel e numerosa – o causador do desaparecimento da (então) garota. Caberá a Mikael descobrir quem, como e por quê. Pelo caminho, o jornalista passará a contar com a colaboração da estranha e violenta Lisbeth, uma bela garota também com segredos a esconder.

Como entretenimento, “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” funciona. Há um certo clima de mistério sublinhado pelas gélidas e nebulosas paisagens suecas. Há um subtexto intrigante que remonta ao nazismo da Segunda Guerra, embora alguns momentos de violência sexual cheguem a perturbar.

Para apreciar melhor o filme, porém, é preciso fazer vistas grossas em alguns momentos, e baixar um pouquinho a bola do senso crítico: incomoda um pouco, por exemplo, a total facilidade com que os investigadores encontram registros policiais fartamente disponíveis (e em perfeito estado de conservação) de casos ocorridos há meio século. Mas são detalhes. Provavelmente os arquivos policiais suecos sejam bem mais organizados e limpos que os nossos. De uma maneira geral, são duas horas e meia que fluem com facilidade.

O roteiro bebe nos clichês do gênero policial sacramentado pelo cinema americano, com direito a uma dupla improvável de protagonistas/antagonistas que acabam se aproximando no final, quantidades industriais de informações disponíveis pela internet em rápidos segundos, e flash backs explicativos de comportamentos doentios. Há até uma rápida perseguição automobilística no final… mas bem rápida… São cânones que aproximam esta produção europeia dos desgastados padrões norte-americanos, com leves delizes aqui e ali, mas sem se render totalmente ao puramente convencional. Ou seja: um filme com pretensões comerciais, sim, mas sem perder a dignidade narrativa.

Curiosidade: o autor do livro, assim, como o personagem principal do filme, também é um jornalista dono de uma revista, processado por um empresário.