“OS INFRATORES” RETRATA A AMÉRICA PÓS-VELHO OESTE.

Depois do belo e pesadíssimo “A Estrada”, o diretor australiano John Hillcoat partiu para um projeto bem mais leve: inspirou-se no livro “The Wettest County in the World”, de Matt Bondurant, para filmar a história supostamente real de “Os Infratores”. A ressalva – “supostamente real” – vem do fato do autor do livro (ele é neto do personagem vivido por Shia LaBeouf) ter escrito a própria história de sua família, certamente sem grandes preocupações documentais e deixando fluir toda a deliciosa ficção que qualquer pessoa destilaria ao escrever sobre si mesmo. Nenhum problema em relação a isso: viva a imaginação do cinema.

A ação se situa no empoeirado interior norte-americano, durante a época da Grande Depressão. É neste cenário de pouca (ou nenhuma) lei que o filme vai contar a saga marginal dos irmãos Bondurant, fabricantes de bebidas ilegais que se tornam mais ilegais ainda quando se recusam a fazer acordos com os donos do poder da região.

Porém, o maior interesse do filme não recai sobre a Lei Seca nem sobre a corrupção política, mas sim sobre este fascinante período da história dos EUA, onde o país passa por uma transição entre o oeste selvagem que agoniza e uma futura noção de civilização que ainda não veio. Os elementos que tipificam esta fase são metaforizados pelos irmãos Bondurant. Os mais velhos, Forrest (Tom Hardy, antes de viver o Bane de “Batman”) e Howard (Jason Clarke) representam a nação ainda fincada no velho oeste, bruta e crua, habitat natural dos velhos pistoleiros que se tornaram lendas vivas de todo um imaginário popular fascinado por tiroteios e cavalgadas ao entardecer. O mais novo, Jack (Shia LaBeouf, de “Transformers”) sinaliza os novos tempos de empreendedorismo em busca da sofisticação urbana mais polida, onde não faltarão belos carros e roupas. Unindo os dois extremos, porém, um ponto de comum – bastante americano, por sinal – une os diferentes irmãos: a sede pelo monopólio do mercado onde atuam. Sede de álcool e de poder.

Não espere, contudo, que estes temas sejam tratados no filme com gravidade. Nada disso. Fiel ao cinema de entretenimento, “Os Infratores” transforma a trajetória dos Bondurant numa agradável aventura de banditismo que esbarra em referências que remetem a “Butch Cassidy” e “Bonnie & Clyde”. Com humor, produção refinada, e um bom ritmo que infelizmente perde um pouco de seu fôlego na última parte, onde o roteiro ensaia alguns finais cansativamente falsos. Uma insistente e desnecessária narração em off do protagonista também não ajuda muito, mas nada que comprometa demais o simpático resultado final.