“OS INICIADOS” E A HIPOCRISIA DO MACHISMO DOGMÁTICO.

Por Celso Sabadin.

O machismo, a hipocrisia e o preconceito não têm tempo nem latitude. São pragas humanas universais e atemporais alimentadas incessantemente pela ignorância dos dogmas. Foi com esta sensação que saí do filme “Os Iniciados”, drama que se passa na África do Sul, mas que traz a típica universalidade de quem enfoca a própria aldeia.

O roteiro parte do arcaico ritual Xhosa, onde jovens se refugiam durante dias nas montanhas para serem circuncidados em condições precárias de higiene e civilização, como parte de uma suposta passagem para o mundo adulto masculino. Sim, tudo acontece nos dias de hoje, por mais incrível que possa parecer. Cada rapaz ou grupo deles – os “iniciados” do título – tem um padrinho para ajudar nesta transição.

A questão cultural parece predominar sem conflitos sobre o bom senso, não fosse a presença de Kwanda, um jovem da cidade que rejeita a tradição de iniciação, causando problemas não apenas para o grupo como principalmente para Xolani, seu padrinho. Toda a frágil encenação machista da situação ameaça desabar quando uma importante questão vem à tona: como lidar com a homossexualidade diante destes códigos patriarcais?

Após uma carreira de dez anos em televisão e curtas, o diretor John Trengove estreia no longa já colocando seu filme entre os nove pré-selecionados ao Oscar de produção estrangeira, representando a África do Sul.

Coproduzido com Alemanha, Holanda, França e com a própria África do Sul, “Os Iniciados” carrega uma constante atmosfera de tensão e medo onde presente e passado parecem entalados em algum tipo de portal incapaz de ser fechado, embotando mentes e engasgando vozes. A cena dos jovens, vestidos e pintados como silvícolas, discutindo se Blackberry é melhor que I-Phone, é um primor de síntese narrativa.

O filme estreia nesta quinta, 18 de janeiro.