“OS MORTOS FALAM” PROCURA UNIR CIÊNCIA E MEDIUNIDADE.

Por Celso Sabadin.

Um Boris Karloff que nem todos reconhecem (sem nenhuma maquiagem de monstro) é o ator principal de “Os Mortos Falam”, misto de drama, terror e ficção científica produzido em 1940 e lançado no ano seguinte. Ele interpreta o Dr. Julian Blair, um renomado cientista que cai na descrença da comunidade acadêmica quando inicia uma pesquisa que busca a comunicação com os mortos unindo ciência e mediunidade.

Com pouco mais de uma hora de duração, “Os Mortos Falam” é o típico produto hollywoodiano que se convencionou chamar de “Filme B”, ou seja, baixo orçamento, produção rápida e duração curta para compor uma sessão cinematográfica com um longa “principal” a ser exibido na sequência (após o inevitável intervalo feito para o consumo de guloseimas no saguão, claro).

Erroneamente, contudo, a denominação “B” acabou criando o preconceito de que se trataria de um filme de qualidade inferior, o que não é verdade, mesmo porque vários filmes “B” eram realizados pelos mesmos grandes estúdios e com os mesmos profissionais das chamadas produções principais. Caso deste “Os Mortos Não Falam”, produzido pela Columbia, fotografado por Allen G. Siegler e dirigido por Edward Dmytryk (cuja carreira seria seriamente prejudicada seis anos depois, quando foi acusado de comunista durante o Macartismo). Assim, o “Filme B” não era exata e necessariamente um filme inferior, mas um produto com outro tipo de proposta, dentro da máquina hollywoodiana.

Dentro desta proposta, “Os Mortos Falam” traz resultados dos mais competentes e satisfatórios, ainda que esbarre no cômico involuntário ao desenvolver uma grande quantidade de diálogos que tentam dar alguma credibilidade “científica” ao improvável experimento do protagonista.

“Os Mortos Falam” é apenas um entre os 20 filmes de terror de baixo orçamento que Karloff protagonizou somente na década de 1940, e entre os mais de 200 em que atuou em toda sua longa carreira. Presença constante no cinema desde a era muda, este ator inglês de rosto marcante transformou-se num ícone do gênero nos anos 30 ao interpretar para a Universal Pictures o monstro de “Frankenstein”, em 1931, e o papel título de “A Múmia”, logo no ano seguinte.

O nome artístico de sonoridade eslava também ajudou na construção da imagem misteriosa do ator, que na verdade tinha um nome de batismo bem menos midiático: William Henry Pratt.