OS NOVOS VENTOS DE “A PRIMEIRA MORTE DE JOANA”.

Por Celso Sabadin.

A página oficial de “A Primeira Morte de Joana” registra que o filme aborda os “questionamentos típicos do início da adolescência”. Sim, os questionamentos de Joana (Letícia Kacperski, ótima) até podem ser típicos, mas o filme, não. Pelo contrário: este segundo longa de Cristiane Oliveira (o primeiro é “Mulher do Pai”) prima pelo frescor narrativo, por um bem-vindo arejamento poético, e pelas sutilezas sonoras e visuais, mantendo-se cinematograficamente distanciado de tipicidades e lugares-comuns.

O roteiro – da própria diretora em parceria com Silvia Lourenço – leva a protagonista a travar contato com a sua primeira vivência de morte, como diz o título: a da sua tia-avó, de quem era bastante próxima. O que mais perturba Joana, porém, não é exatamente a ausência do ente querido, mas a possibilidade da falecida ter saído deste mundo “sem nunca ter namorado”.

Com ternura, sensibilidade e – principalmente – sem pressa, Joana e a amiga Carolina (Isabel Bressane, também ótima) empreendem uma pequena investigação familiar sobre o tema, mergulhadas em um universo dicotômico que potencializa suas duplicidades e descobertas: de um lado, a rígida formação germânica da qual os personagens são vítimas… ops… frutos. E, do outro, um parque eólico transformador que se instala no outro lado da estrada. Mas para alcançar os novos ventos, é preciso cruzar a rodovia.

Completam o elenco Joana Vieira, Lisa Gertum Becker, Rosa Campos Velho, Pedro Nambuco, Roberto Oliveira, Graciela Caputti, e Emílio Speck.

Rodado na região de lagoas do Rio Grande do Sul, com locações nas cidades de Osório e Santo Antônio da Patrulha, “A Primeira Morte de Joana” foi exibido ontem, 17/08, no 49º Festival de Cinema de Gramado.

 

A trajetória do filme

Já na etapa de projeto, “A Primeira Morte de Joana” encontrou espaço no mercado internacional: em 2018 foi selecionado, dentre mais de 300 projetos do mundo todo, para participar do Co-production Market, evento com foco em mercado do Festival de Berlim. Antes disso, a proposta havia sido contemplada no edital de desenvolvimento do Fundo Setorial do Audiovisual.

Na sua trajetória de viabilização, foi contemplado no edital do BNDES (na linha de produção de longas que priorizam o reconhecimento artístico e técnico no mercado internacional) e no FAMA-Fundo Avon de Mulheres no Audiovisual, prêmio que busca incentivar e valorizar a produção audiovisual feita por mulheres. Além disso, contou com o apoio da produtora associada francesa Epicentre Filmes. Estreou internacionalmente no 51º International Film Festival of India, em janeiro de 2021. Na mesma semana foi lançado comercialmente nos cinemas da França, onde recebeu várias críticas positivas.

Biografia da Diretora

Nascida em Porto Alegre, Cristiane Oliveira é diretora do longa MULHER DO PAI (Brasil-Uruguai) que teve estreia internacional no Festival de Berlim 2017. O filme participou de mais de 20 festivais e ganhou 20 prêmios. Atualmente, lança em festivais seu segundo longa, A PRIMEIRA MORTE DE JOANA (ganhador do Global Vision Award no Festival Cinequest, nos EUA), e prepara seu terceiro, ATÉ QUE A MÚSICA PARE (Brasil-Itália), selecionado no Talents Script Station do Festival de Berlim 2021. Atua como roteirista desde 2004, quando estreou seu primeiro curta, MESSALINA, vencedor de 13 prêmios em festivais.