“OS RUMINANTES” E O QUE FOI, SEM NUNCA TER SIDO.
por Celso Sabadin, de Ouro Preto.
Fãs de cinema sempre gostam muito de saber como os filmes são feitos. O documentário “Os Ruminantes” mostra um outro lado do fazer cinema, ao mostrar como um filme não foi feito.
O longa esmiúça o caso da adaptação cinematográfica do livro “A Hora dos Ruminantes”, que os cineastas Luiz Sergio Person e Jean-Claude Bernardet ansiavam em realizar, em 1967. Uma adaptação que jamais aconteceu.
A primeira pergunta que me veio à mente foi: um filme jamais feito pode render um bom documentário? A resposta veio logo após a projeção: pode. Com roteiro e direção de Tarsila Araújo e Marcelo Cordeiro de Mello, ”Os Ruminantes” entrevista Bernardet e Marina Person (filha de Luiz Sergio), entre outros, buscando vasculhar detalhes e bastidores sobre a obra natimorta.
O resultado é uma envolvente visão investigativa não apenas das dificuldades de realização de um projeto de longa metragem, como principalmente das relações entre política, censura e cinema, naqueles terríveis anos da ditadura civil-militar-empresarial iniciada em nosso país em 1964.
Tangencialmente, o longa ainda mostra, registra e comemora a brevíssima – e ao mesmo tempo instigante – obra de Person, falecido prematuramente em 1976, pouco antes de completar 40 anos de idade. Chama a atenção também o fato de Person, tido como cinemanovista graças ao seu “São Paulo S/A”, declarar-se contrário aos preceitos do Cinema Novo.
Tentando vencer a dificuldade de criar uma obra audiovisual sobre um filme jamais nunca (e, consequentemente, sem imagens para ilustrá-lo), “Os Ruminantes” lança mão de um recurso que divide opiniões: usar cenas de outros filmes brasileiros da época, o que pode ao mesmo tempo resolver a questão ou confundir a narrativa.
“Os Ruminantes” faz parte da programação do 20º CineOP, Mostra de Cinema de Ouro Preto. Acompanhe toda a vasta – e gratuita – programação em https://cineop.com.br