OS TEMPOS E OS ESPAÇOS ESTENDIDOS DE “NADA”.
Por Celso Sabadin.
Antes de mais nada, vale o aviso: o longa “Nada” não tem relação com o curta homônimo de 2017, de Gabriel Martins. Um nada tem a ver com o outro. Nada.
Estreando nesta quinta, 31/07, este “Nada” é o primeiro longa-metragem do multiartista Adriano Guimarães. O roteiro de Emanuel Aragão – coautor do argumento ao lado do diretor – fala de Ana (Bel Kowarick), uma artista plástica que se vê obrigada a adiar a montagem de uma exposição de suas obras para cuidar da irmã Tereza (Denise Stutz), adoentada. Ambas se isolam numa pequena propriedade rural, longe de todos e de tudo, incluindo sinal de celular.
É nesta geografia afastada e neste tempo ampliado que se desenvolve um universo muito particular que envolverá não somente as irmãs, como também o espectador que se dispuser a mergulhar neste ritmo muito peculiar da narrativa.
O estranhamento urbano/rural formado por silêncios e amplidões se potencializa com a estranha interferência de uma antena que aqui ganha contornos de alegoria fantástica. A inquietação vira medo, que por sua vez se transforma em arte. A sempre salvadora arte.
“As ideias iniciais para o filme surgiram a partir da leitura dos escritos do poeta brasileiro Manoel de Barros. Além disso, os anos em que trabalhei com a obra de Samuel Beckett reverberam no longa”, afirma o diretor.
“Nada” já foi exibido em festivais na Espanha, Rússia, Índia, Argentina, México e Colômbia. O filme foi premiado no 25º Festival de Cinema de Tiradntes (2022) na categoria Work in Progress (WIP), no Festival de Málaga (2022) com o Prêmio WIP Iberoamericano e o Prêmio LatAm Cinema, além de ter recebido os prêmios de Melhor Direção, Melhor Direção de Arte e Melhor Edição de Som no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – Mostra Brasília.
Quem dirige
Adriano Guimarães é diretor de cinema e teatro, artistas visuais e cenógrafos, com uma trajetória de mais de 30 anos dedicada à pesquisa, criação e realização de projetos nas interseções entre teatro, artes visuais, cinema, dança e literatura. Concebeu e realizou eventos de espetáculos, exposições, publicações e eventos de grande relevância no Brasil e no exterior. Reconhecido nacional e internacionalmente, participou de importantes mostras e instituições, como a Bienal de São Paulo e o Panorama da Arte Brasileira. Como diretor, assinou mais de 60 montagens teatrais, de autores como Samuel Beckett, Shakespeare, Jorge Luis Borges, Lorca e García Márquez. Participou de festivais e mostras internacionais de destaque, incluindo o Festival Internacional de Teatro de Curitiba, Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia, Cena Contemporânea (Brasília), Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha), Príncipe 54 (Espanha), Festival de Avignon (França), Festival Ibero-Americano de Arte e Cultura (Portugal) e Festival de Aarhus (Dinamarca).