ÓTIMO, “O CHEF” GANHA NOVA CHANCE NAS PLATAFORMAS.
Por Celso Sabadin.
O ótimo filme britânico “O Chef” (tradução brasileira para “Boiling Point”, que seria “ponto de ebulição”) passou meio despercebido pelos cinemas brasileiros, mas merecia sorte melhor. Felizmente as plataformas digitais estão aí para dar uma segunda chance ao longa.
Tudo se passa numa única noite, num único restaurante. E num único plano sequência. O “chef” do título em português é Andy (Stephen Graham, de “Peaky Blinders” e “O Irlandês”), profissional dos mais competentes no ramo gastronômico, mas que passa por uma grave crise familiar. No comando de um refinado restaurante londrino, ele se vê pressionado pelos mais diversos problemas que surgem no transcorrer daquela jornada, enredando-se numa espiral negativa que gradativamente tende ao desespero. É o tal ponto de ebulição do título original.
O restaurante se transforma num microcosmo da vida, onde temas como racismo, ganância, traições, orgulhos, amizades e fraquezas humanas se apresentam abertamente num indigesto cardápio social.
Num primeiro momento, o longa até lembra “O Jantar”, de Ettore Scola, onde todos os conflitos também se desenrolam em um único restaurante, em uma única noite, mas aqui há uma fundamental diferenciação na estrutura do roteiro: em “O Chef”, diferente de “O Jantar”, tudo se desenvolve numa linha contínua que costura um mesmo núcleo de personagens. Trata-se de um roteiro brilhantemente urdido escrito por James Cummings (estreando em longas) e Philip Barantini, que também dirige o filme. Ambos já haviam realizado, em 2019, um curta metragem de mesmo nome, sobre o mesmo tema, que serviu como laboratório para este longa.
O fato de “O Chef” ter sido filmado em um único plano auxilia – e muito – na tarefa de colocar o espectador, por assim dizer, “dentro da cena”, envolvendo-o nesta noite tão atribulada e repleta de ansiedades. A proposta traz uma força narrativa que supera de longe o que poderia ser considerado apenas um mero maneirsmo ostentatório, como aconteceu em “Birdman”, por exemplo, e o filme vai muito além da curiosidade que uma filmagem em plano único possa oferecer.
Como geralmente acontece nos filmes produzidos na Terra da Rainha – opa, agora do Rei – o elenco de “O Chef” dá uma verdadeiro banho de intepretação, honrando mais uma vez o conhecido talento interpretativo do cinema britânico.
O filme venceu quatro prêmios no British Independent Film Award (Fotografia, Som, Melhor Elenco e Melhor Atriz Coadjuvante para Vinette Robinson), e passou pelos festivais BFI London Film Festival, Zurich Film Festival e Karlovy Vary International Film Festival, todos de 2021. Em 2022 foi indicado a quatro prêmios Bafta, incluindo o de “Outstanding British Film of the Year”.
“O Chef” já está disponível na Claro tv+ (antigo Claro Now), iTunes/Apple, Google/YouTube e Vivo Play.

