ÓTIMO, “O TRUQUE DA GALINHA” NÃO É SOBRE TRUQUES. NEM GALINHAS.

Por Celso Sabadin.

Não se deixe enganar pelo título, que sugere uma comédia: “O Truque da Galinha” é um drama. E poderoso! Tudo acontece em algum lugar assolado pela pobreza e pela desolação. Algum canto seco, árido e poeirento do planeta no qual uma família convive com a intensa fumaça das instalações industriais ao seu redor. O clima lembra uma ficção científica distópica, daquelas ambientadas num Tatooine qualquer, num canto de mundo que os deuses esqueceram.

É neste cenário de devastação que um casal dribla suas contas vencidas e alugueis atrasados para – pelo menos – proporcionar uma divertida festa de aniversário para um dos seus três filhos. É o momento em que a narrativa mergulha por um caminho surrealista e provoca no público uma reação cada vez mais rara no cinema contemporâneo: a surpresa. Nestes tempos de terraplenagem audiovisual, nos quais tudo é nivelado para o gosto comum, como é bom ser surpreendido por um filme! Desde que – claro – a gente não leia nada sobre ele antes.

“O Truque da Galinha” (a tradução de seu título internacional original seria “Penas”) não é sobre galinhas, mas sobre uma sociedade machista, estruturada sobre a figura paterna, que entra em colapso quando tal pilar familiar desaba. Consequentemente, também é sobre a tomada de consciência do poder feminino que busca soluções extremadas quando se vê em situações igualmente limítrofes.

Ou talvez seja sobre galinhas, quem sabe? De qualquer maneira, trata-se de um roteiro vigoroso dos egípcios Ahmed Amer e Omar El Zohairy, dirigido com segurança e eficiência pelo próprio El Zohairy, estreando aqui na direção de longas.

Coproduzido por Egito, Holanda, Grécia e França (sempre ela), “O Truque da Galinha” tem mais de 20 premiações nacionais e internacionais em seu currículo, incluindo duas no Festival de Cannes.