“OURO, SUOR E LÁGRIMAS” FAZ “ESQUENTA” PARA AS OLIMPÍADAS 2016.

Por Celso Sabadin.

Faltando um ano para o inicio das próximas Olimpíadas, no Rio de Janeiro, entra em cartaz “Ouro, Suor e Lágrimas” documentário que registra a trajetória de uma década das seleções brasileiras masculina e feminina de vôlei. Dirigido por Helena Sroulevich, o filme abrange o periodo 2002-2012, anos em que ambas as seleções passaram por trajetórias, de certa maneira, opostas: enquanto o time masculino ganhava praticamente todas as competições que disputava, o feminino invariavelmente morria na praia, conquistando cada vez mais a incômoda fama de vice. Pelo menos até os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

O filme segue a linha documental tradicional, com depoimentos de técnicos e atletas ilustrados pelos momentos e pelas jogadas que eles próprios relembram. Como não podia deixar de ser, proliferam as histórias de privações, inseguranças, dificuldades e superações.

Se num primeiro olhar “Ouro, Suor e Lágrimas” soa clássico e  convencional, praticamente televisivo (o que não é exatamente um demérito, mas uma opção), por outro lado ele provoca uma inquietante reflexão: quando o assunto são os grandes eventos esportivos patrocinados, viramos reféns dos patrocinadores e das redes de TV? A dúvida advém do fato de praticamente todas as imagens de arquivo do filme serem da Globo. E, consequentemente, captadas para finalidades televisivo-jornalísticas, sem grandes preocupações estéticas, muito menos artísticas. Teríamos passado por uma inesquecível geração de ouro do vôlei sem que nenhuma imagm igualmente inesquecivel, esteticamente cinematográfica, fosse captada? E tudo isso provavelmente pelos famosos direitos de imagem? Estaríamos formando e deformando gerações de produtres e consumidores de imagens pobres, vitimados por questões autorais?  Nenhuma camera, nenhum produtor, nenhum cinegrafista teria registrado imagens que realmente fizessem justiça à maravilhosa plasticidade do esporte? Estaríamos condenados a ver o mundo pelas lentes exclusivas de um patrocinador ou de uma rede de televisão?

Que fique bem claro: estes e outros questionamentos não tiram o brilho do documentário, que teve, entre outros, o grande mérito de provocá-los. Mas quando se assiste a um filme cujo roteiro nos conduz a um suposto ápice que seriam as Olimpíadas de Londres, em 2012, e não há imagens deste ápice porque não foi possível negociar com a Record, a detentora dos direitos, é inevitável perguntar em que proporções as atuais leis dos direitos de imagem e dos direitos autorais estariam deteriorando profundamente as raízes da memória audiovisual brasileira.

Mas isto já daria outro documentário.

Assim como daria outro filme relembrar as bases históricas que proprcionaram as vitórias brasileiras que recordamos em “Ouro, Suor e Lágrimas”, bases estas formadas pela geração de Bernard, Montanaro e Luciano do Valle. Fica a sugestão.

De qualquer maneira, pelo menos no cinema, as Olimpíadas do Rio de Janeiro já têm seu pontapé inicial. Ou melhor, seu saque.