OZON DEBATE IDENTIDADES SEXUAIS NO GENIAL “UMA NOVA AMIGA”.

Por Celso Sabadin.

Às vezes me perguntam como se percebe a chamada “mão” do diretor num filme? Como perceber se o filme é, como dizemos, “bem dirigido”? Há várias teorias que abordam o tema, mas para efeito didático costumo dizer que filme bem dirigido é aquele que (1) não olhamos para o relógio durante a projeção ou (2) a gente se apaixona pelos personagens. No caso de “Uma Nova Amiga”, temos uma rara combinação de 1 + 2: tanto não se percebe o desenrolar do tempo, como nos envolvemos emocionalmente com os personagens propostos, e torcemos por eles.

O que não chega a ser uma surpresa, pois afinal “Uma Nova Amiga” tem direção do parisiense François Ozon, o mesmo dos notáveis Sitcom (1998)  Sob Areia (2000),  8 Mulheres (2002), Amor em 5 Tempos e Swimming Pool (ambos de 2003), Angel (2007), Rick (2008), O Refúgio (2009), Potiche – Esposa Trofeu (2010), Dentro de Casa (2012) e Jovem e Bela (2013). Que lista! Poucos diretores conseguem emplacar um sequência de qualidade como esta.

O início do filme lembra demais a abertura de “O Reencontro”, de Lawrence Kasdan, mostrando closes de uma pessoa sendo vestida supostamente para um evento social, para no final descobrirmos que se trata de um funeral. Mas as semelhanças param por aí. A partir deste início, Ozon desenvolve a fascinante história de Claire (Anaïs Demoustier), uma mulher que prometeu no leito de morte de sua melhor amiga, Laura (Isild Le Besco), que cuidaria do viúvo David (Roman Duris, espetacular) e da pequena filha do casal.

Óbvio que a grande maioria do público passa a pensar, a partir desta introdução, que Claire e David se apaixonarão, para o desespero de Gilles (Raphael Personnaz), o maridão legal e compreensivo de Claire. Mas Ozon pode ser tudo. Menos óbvio. Pelo contrário, o roteirista e diretor desenvolve com este pequeno universo de personagens uma inebriante trama de dualidades, desejos conflitantes, identidades sexuais e hiporcrisias sociais. Tudo dentro do já consagrada estilo, digamos «ozoniano », onde prevalece a sutileza, as supresas e sua extrema elegância narrativa.

Com uma pegada que remete bastante ao cinema de Almodóvar (mas com o charme de Ozon), «Uma Nova Amiga » participou de vários festivais internacionais, e ganhou em San Sebastian o prêmio de melhor filme de temática LGTB.