“PACARRETE”, O OUTRO ISOLAMENTO SOCIAL.

Por Celso Sabadin.

“Pacarrete” é Margarida em francês. As pessoas é que falam errado. Pelo menos esta é a explicação que a própria Pacarrete (Marcélia Cartaxo) fornece sobre seu nome pouco usual, no longa homônimo. Foi inevitável lembrar de “Bye Bye Brasil”, filme nos qual “a gente não sabia que Roliúdi se escreve com ipsilône”, segundo Lorde Cigano (José Wilker).

Mas quem é Pacarrete? Trata-se de uma ex-professora e ex-bailarina que esbanja auto-estima e não esconde sua prepotência ao tratar com ares de superioridade todos os habitantes de sua cidade natal: Russas, no Ceará. Apesar da idade, ela está convencida que será capaz de proporcionar um inesquecível espetáculo de ballet durante as comemorações do bicentenário do lugar.

Vivendo em um mundo só dela, Pacarrete, a personagem, é considerada a louca da cidade. E “Pacarrete”, o filme, é um belíssimo trabalho sobre isolamentos sociais. Não o isolamento midiático atual da pandemia, mas o isolamento congênito e crônico das pessoas que convivem diariamente nas mais diversas situações, mas jamais se percebem. O tal “fala, que eu não te escuto”.

O papel da protagonista caiu como uma luva para o gigantesco talento de Marcélia Cartaxo (a inesquecível Macabéia de “A Hora da Estrela”), muito bem acompanhada por Zezita Matos, Soia Lira e João Miguel, irrepreensíveis.

Destaque também para a bela fotografia estilizada que utiliza uma paleta de cores pasteis que remete ao sonho e à fábula.

Com roteiro de André Araújo, Samuel Brasileiro, Natália Maia e do próprio diretor, Allan Deberton, “Pacarrete” foi o grande vencedor do 47o Festival de Gramado, onde ganhou os Kikitos – de Melhor Filme, Melhor Filme Júri Popular, Direção, Atriz,  Roteiro, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Desenho Sonoro. Desde então, já coleciona vinte e sete prêmios em festivais de todo o mundo.

Primeiro longa para cinema dirigido por Deberton, o filme é livremente inspirado em uma conterrânea do diretor, e foi filmado na própria cidade de Russas, também sua cidade-natal.

Tornou-se uma obra “movida por uma locomotiva de sensações”, ele explica. “Fico pensando nas inadequações e em como é triste ter que gritar para ser ouvido, para ser respeitado. (…) Pode ser uma vizinha, uma tia, ou um senhor excêntrico”.

O filme estreia nos cinemas nesta quinta, 26/11, nas cidades de São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Natal, Brasília, Curitiba, Campina Grande, Fortaleza, Porto Alegre, Sobral, João Pessoa, Mossoró, Niterói, Teresina e Vitória da Conquista.