PALACE II”, PARA QUEM ACHA QUE A CORRUPÇÃO DA JUSTIÇA BRASILEIRA É NOVIDADE.  

Por Celso Sabadin.

“Vai mudar tudo. Vai ser um Brasil melhor. Isso não vai acontecer mais. Essas coisas não vão mais acontecer. As coisas vão mudar, não vai ser mais assim. As pessoas não vão mais ficar impunes. É um outro tempo”. As palavras são de uma das vítimas do desabamento do Edifício Palace II, que matou 8 pessoas e desabrigou 84 famílias em fevereiro de 1998, no Rio de Janeiro. A depoente não está se referindo a nenhuma indenização recebida; ela apenas comemora o fato do deputado federal Sergio Naya, responsável pela obra, ter sido cassado de seu mandato legislativo, perdendo, assim, sua imunidade parlamentar e, consequentemente, ser passível de acusação formal pelo crime que cometeu. A alegria incontida da vítima, registrada naquele distante 1998, jamais poderia supor que – naquele momento em que ela ingenuamente preconizava “um Brasil melhor” – não apenas ela mas como as dezenas de famílias envolvidas na tragédia estavam apenas iniciando uma interminável e injusta série de processos judiciais que perdura até hoje. As vítimas ainda não conseguirem suas indenizações, o criminoso não foi culpado e, como todos sabemos, o tal “Brasil melhor” nunca aconteceu. Pelo contrário.

A radiografia completa da tragédia está registrada em “Palace II”, documentário que faz muito mais que simplesmente contar o que aconteceu e mostrar a luta dos prejudicados: o filme é a comprovação de que está longe de ser novidade o fato da justiça brasileira ser – historicamente – apenas um sistema muito bem aparelhado e cuidadosamente montado para manter os privilégios dos endinheirados, custe o que custar. A situação se mostra ainda mais dramática ao lembrarmos que – no caso do Palace II – as vítimas são pessoas de classe média alta, com acesso à informação, educação e advogados. É avassalador pensar como funciona o judiciário brasileiro no caso de vítimas formadas por comunidades excluídas.

Com direção de Rafael Machado e roteiro de Paulo Fontenelle, “Palace II” tem coprodução da GloboNews, ironicamente um veículo pertencente a um dos grandes conglomerados brasileiros que ajudam – e muito – a perpetuar os esquemas corruptos da justiça do nosso país. Realmente, o Brasil não é para principiantes.