“PARA’Í” ENCANTA PELA AUTENTICIDADE.

Por Celso Sabadin.

Acredito que a primeira palavra chave que rege todo o filme  “Para´Í”  seja autenticidade. Uma adorável espontaneidade que brota das raízes do próprio projeto que o originou, qual seja, a realização de oficinas de vídeo junto aos povos indígenas paulistanos. Sim, há indígenas na cidade de São Paulo.

“O objetivo destas oficinas era que a comunidade pudesse se apropriar das tecnologias e realizar projetos para visibilizar o contexto de vida dos Guarani na maior cidade do país”, explica Vinicius Toro, roteirista e diretor do longa.

Nesta linha, acredito que a segunda palavra chave do filme seja encantamento. “Para´Í” encanta pela espontaneidade e pela simplicidade que exala.

O longa mergulha no universo indígena através do olhar de Pará (Monique Ramos Ara Poty Mattos), uma garotinha que encontra uma espiga de milho multicolorida, fica fascinada pela sua beleza, e vai tentar cultivá-la. Engana-se quem imaginar este universo como algo isolado ou estereotipado pelas percepções distorcidas que nós, urbanos, teimosamente mantemos sobre as comunidades indígenas. Pará é uma menina do seu tempo. E sua comunidade fica a poucos passos do que erroneamente se convencionou chamar de civilização.

“Para´Í” se apoia em uma intrigante dicotomia formada pelo desejo da menina em cultivar suas próprias raízes culturais – simbolicamente representadas pela espiga multicolorida de milho – e seu ímpeto de desbravar novos limites de seus conhecimentos e percepções. Mesmo porque – para o bem e para o mal – a autoestrada que leva a novos caminhos está, literalmente, logo ali.  É o tal “caldo cultural” em permanente fervura, ebulição e transformação.

Para o diretor, o filme “fala sobre resistência, sobre seguir em meio à escassez, à dificuldade e não desistir, e poder ser destruído, mas algo sempre permanecer para dar continuidade. É própria metáfora da história dos povos indígenas, por isso acho que no momento atual ele faz tanto sentido quanto antes, porque não é uma denúncia específica, é uma história que continua, essa jornada simbólica do povo Guarani”, conclui.

Liberto das convenções cristalizadas do cinemão convencional, e sintonizado a uma estética naïf/telúrica muito mais adequada e coerente ao tema, “Pará´Í” chega aos cinemas nesta quinta, 20 de abril, na semana do Dia dos Povos Indígenas.

Importante: o milho multicolorido é real. Não se trata de liberdade poético-cenográfica.

 

Quem é o roteirista/diretor

Formado em Audiovisual na USP, Vinicius Toro trabalha há 12 anos junto ao povo Guarani, realizando documentários, exposições fotográficas e livros, culminando no filme de ficção PARA’Í, resultado da criação em parceria com a comunidade indígena do Jaraguá e desenvolvido a partir de fatos vividos durante o processo da luta pela terra.