“PARAÍSO EM CHAMAS” NÃO TEM NEM PARAÍSO, NEM CHAMAS, MAS É MUITO BOM.
Por Celso Sabadin.
Depois de “Ninguém Pode Saber”, de Koreeda, ficou difícil encarar o desafio de se fazer mais um filme sobre crianças abandonadas em casa, sem a presença de adultos. Mas a diretora sueca, Mika Gustafson, logo em seu segundo longa, encarou. E se deu muito bem.
Com roteiro dela mesma e de Alexander Öhrstrand, “Paraíso em Chamas” constrói um retrato repleto de autenticidade sobre o abandono de três irmãs. Por motivos que o filme não explica – e nem é necessário – a mãe de Laura, Mira e Steffi (de 16, 12 e 7 anos, respectivamente) foi-se embora, deixando as três meninas às suas próprias sortes.
As três jovens atrizes – Bianca Delbravo, Dilvin Asaad e Safira Mossberg, também respectivamente – são espetaculares.
Esta nova microfamília se reinventa dentro da lógica natural da filha mais velha assumir o papel de mãe das mais novas. Mas a também natural falta de maturidade para a função, aliada aos desejos intrínsecos de uma adolescência que floresce, transforma este novo modelo de relacionamento familiar num misto de liberdades e irresponsabilidades que se alternam com a mesma intensidade do crescimento das meninas.
No exterior desde microcosmo compulsório e improvisado, a ação de vizinhos e do conselho tutelar molda e interfere as novas vidas expostas ao amadurecimento prematuro. Não há chamas em “Paraíso em Chamas”; mas tudo bem, porque tampouco há paraíso. Mas há calores, medos e afetos pintados em tons de vermelho, seja o da primeira menstruação, da primeira garrafa de vinho, ou da carne do supermercado.
Vencedor do prêmio de melhor direção na mostra Orizzonti do Festival de Veneza, “Paraíso em Chamas” entra agora nesta quinta-feira, 02/10, em sua merecida segunda semana em cartaz em cinemas brasileiros. A produção envolve Suécia Dinamarca, Itália e Finlândia.