PARIS FILMES TENTA VENDER DRAMA “NAMORADOS PARA SEMPRE” COMO ROMANCE “FOFO”.

Triste. Muito triste o drama “Blue Valentine”, sobre o processo de degeneração amorosa de um casal. Mais triste ainda é a tentativa explícita da Paris Filme de enganar o público e batizar o filme com o título “fofo” de “Namorados para Sempre”. E ainda por cima lançá-lo no fim de semana do Dia dos Namorados, para ludibriar pares incautos à procura de um programa romântico. E mais, além de transformar o título do filme num verdadeiro caso de Procom, a distribuidora ainda criou a frase promocional otimista “Quando o amor estava se perdendo, a paixão voltou pra atraí-los”, que não tem ver com o que se passa no filme. Uma empresa do porte e da tradição de uma Paris Filmes não precisava recorrer a este tipo de propaganda enganosa. É triste.

Mesmo porque o filme tem qualidades. Sem se preocupar com o tempo linear, a trama conta a história do casal Dean e Cindy. Ele (Ryan Gosling), trabalhador de uma empresa de mudanças, um sujeito emocional, apaixonado e de bom coração. Ela (Michelle Williams), enfermeira, estudante de medicina de hábitos sexuais um tanto promíscuos. O filme girará sobre esta relação, como ela se forma, se desenvolve e – tristemente – se deteriora. Uma deterioração pura e simples, sem nenhum grande motivo aparente. Apenas o desgaste usual do tal ciclo da vida, que diz que tudo nasce, cresce e morre. Por mais que seja dolorido morrer.

“Namorados Para Sempre” trata do tema com aquele característico estilo consagrado pelo cinema americano independente: uma câmera intimista, quase sempre próxima dos protagonistas, bem-vindos momentos de silêncio e reflexão, trilha sonora pacata e envolvente. Nem tudo precisa ser explicado; nem tudo precisa ser explicitado. São pequenos e sinceros retratos verossímeis da vida, sem grandes arroubos, que por isso mesmo conseguem empatia com o público.

Uma cena em particular merece destaque. Dean e Cindy passeiam pela rua. Diante de uma vitrine horrenda, de manequins bizarros vestindo roupas toscas, Dean toca cavaquinho e canta de maneira horrível. Cindy dança pessimamente. E ambos exalam aquela felicidade máxima e indescritível dos apaixonados. Como que comprovando que o amor é mesmo aquele sentimento sem censura nem medo do ridículo que transforma tudo o que rodeia quem se apaixona. Um sentimento duro de se admitir que morreu.

No plano do mundo real, a nota triste fica por conta do adiamento das filmagens de “Blue Valentine”, que eram para ter sido iniciadas em 2008. Porém, com a morte do ator Heath Ledger, ex-namorado de Michelle Williams e pai da filha dela, tudo foi postergado.

Ryan Gosling e Michelle Williams foram indicados ao Globo de Ouro pelo filme.