PAUL THOMAS ANDERSON E A VIAGEM LISÉRGICA DE SEU “VÍCIO INERENTE”.

Por Celso Sabadin.

Paul Thomas Anderson é para profissionais. Quem viu “Embriagado de Amor” e “Magnólia”, só para citar dois exemplos, sabe que o cineasta tem um estilo diferenciado, às vezes hermético, às vezes difícil, sempre fascinante. Em “Vício Inerente” ele continua fiel aos seus princípios de causar estranhamentos com seu ritmo muito particular, de envolver com personagens fascinantes e de encantar com histórias fora do convencional.

Aqui, tudo gira em torno do detetive particular Doc Sportello (Joaquim Phoenix, cada vez melhor) que é procurado pela sua ex-namorada Shasta (Katherine Waterston) para uma “consultoria” muito especial: ela quer saber se deve ou não se unir à esposa de seu amante milionário para sequestrá-lo e interná-lo num manicômio. A dúvida é apenas a pontinha de um iceberg que levará Sportello a uma trama tão alucinógena quanto aquele início de anos 70 onde o filme é ambientado.

“Vício Inerente” é, ao mesmo tempo, uma homenagem ao cinema noir dos anos 40 e aos filmes da nova Hollywood que começava a despontar nos 70. O início é tipicamente noir, com a bela garota contratando um detetive meio decadente que se apaixona por ela (no caso, se reapaixona) fazendo-o se meter num labirinto de traições e falsas aparências onde ninguém é o que aparenta ser.  Paralelamente, a estética visual do filme é deliciosamente setentista, não apenas na direção de arte – o que seria meio óbvio e até obrigatório – mas principalmente nas cores, granulações, texturas e na narrativa lisérgica que joga a plateia diretamente no clima hippie/psicodélico daquele momento bastante peculiar.

Não se preocupe se por acaso você achar que não está entendendo o filme muito bem. Quase ninguém estará. Além do estilo nada ortodoxo de Anderson, “Vício Inerente” é baseado (sem trocadilhos) no livro de Thomas Pynchon, considerado um dos papas do pós-modernismo, e famoso pela profusão de personagens, tramas e subtramas de suas obras. O melhor a fazer é deixar o filme acontecer muito mais nos níveis subconscientes de sua percepção do que na racionalidade do tal “quem matou quem”, que não é mesmo o forte da proposta. Afinal, tudo ocorre na era do sexo, drogas e rock´n´roll.

Outro destaque de “Vício Inerente” é o elenco, que parece estar se divertindo muito enquanto atua. Além dos já citados Phoenix e Waterston, o público vê desfilar diante de si nomes como

Josh Brolin (quem melhor para viver o policial durão?), Owen Wilson,  Reese Witherspoon, Benicio Del Toro, Martin Short e  Jena Malone.

A trilha sonora – muitas vezes escondidinha bem no fundo da cena – também é uma delícia. Principalmente para quem viveu a época.