“PAULISTAS”. SÓ QUE NÃO.

Por Celso Sabadin.

O documentário “Paulistas” não é sobre paulistas. Nada de Revolução de 32, de “locomotiva do Brasil”, de Parque do Ibirapuera, café, ou décadas de governos corruptos.

Na verdade o longa é todo focado em duas regiões rurais localizadas no sul de Goiás – denominadas Paulistas e Soledade – que no início dos anos 1990 viu seu êxodo rural intensificado com a expansão da monocultura da soja e a exploração dos recursos hídricos através da construção de uma hidrelétrica. Um lugar violentado por uma suposta modernidade e onde, desde 2014, não existem jovens. O filme acompanha a trajetória de três irmãos que, durante as férias de julho, visitam os pais, que moram na região.

A narrativa contemplativa e introspectiva de “Paulistas” busca colocar o espectador na imensidão e no silêncio daquele universo. Os tempos são estendidos, os horizontes são largos e a pressa é inexistente, criando uma curiosa dicotomia com o que o título do longa num primeiro momento sugere. O choque cultural é inevitável, e é nele que reside o encanto maior de um filme emoldurado por uma cativante luz rural que inclui tanto celulares como tomar leite de vaca tirado na hora. Sem mitificações facilitadoras.

No dizer do diretor Daniel Nolasco, o filme “acompanha a dupla contradição entre o retorno e a partida, entre a tradição e modernidade, onde as férias de julho são o momento em que futuro e passado encontram-se completamente presentes na região dos Paulistas”. Nolasco mostra a situação com conhecimento, já que ele próprio passou pelo mesmo processo de “migração“ que seus  personagens. Goiano de Catalão, dirigiu e roteirizou os curtas “Sr. Raposo” (2018), “Netuno” (2017), “Tatame” (2016), “Febre da Madeira”,“A Felicidade Chega aos 40” (2014), “Urano” (2013), “Os Sobreviventes” (2013), “Gil” (2012), e “A Geografia do Preconceito” (2011).

“Paulistas” estreia nesta quinta, 22 de fevereiro.