“PECADOS ANTIGOS, LONGAS SOMBRAS” É O CINEMA ESPANHOL QUERENDO SER AMERICANO.

por Celso Sabadin.

Talvez eu estivesse esperando demais. Afinal, “Pecados Antigos, Longas Sombras” chega aos cinemas brasileiros com o aval de ter sido indicado para nada menos que 16 prêmios Goya, o Oscar espanhol, tendo levado 10 deles, incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro Original. Talvez venha daí minha decepção com a obra, que me passou a sensação de ser apenas um bom thriller policial realizado nos moldes, padrões e vícios do cinema norte-americano. Tudo muito bem feito, é verdade, mas nada que efetivamente empolgue.

A ação é ambientada no início dos anos 80, época em que a Espanha não vive mais sob a ditadura Franco, mas que ainda repercute e ecoa as décadas anteriores comandadas pelo terror e pela truculência.  É neste cenário de medo e desconfianças que dois policiais da capital são enviados a um pequeno vilarejo para investigar o caso de duas irmãs desaparecidas.

Tecnicamente, o filme é precioso. A fotografia que privilegia os tons sépia, a direção de arte despojada, as belíssimas locações que evocam desolação e solidão, os amplos silêncios, a montagem segura, tudo remete a um trabalho de qualidade e apuro que tem na criação do clima de mistério o seu maior mérito. Mas é inevitável não se decepcionar com o roteiro, que novamente explora o mais que desgastado conflito entre a dupla de policiais/protagonistas, usa e abusa dos clichês do gênero, e não evita sequer a repetitiva perseguição de carros no terceiro quarto da ação. Fica um forte gosto de “sou espanhol mas gostaria de fazer um filme americano”, e o previsível subtexto político/ideológico superficialmente emprestado à trama só reforça a impressão de “Pecados Antigos, Longas Sombras” querer se arvorar de um estofo que efetivamente ele não tem.

Talvez funcione melhor para quem não se impressionar com suas 16 indicações ao Goya.