“PEDREGULHOS”: VIDAS SECAS À INDIANA.

Por Celso Sabadin.

A Índia – que nas últimas décadas tem se alternado com a Nigéria na primeira colocação dos maiores produtores quantitativos do cinema mundial – carrega consigo um forte preconceito: o de que seu cinema seria uniforme, feito somente de romances musicais dançantes de pouca qualidade, quase impossíveis de serem exportados para o restante do planeta.

“Pedregulhos”, produzido naquele país, vem para mostrar que não é bem assim.

Sintonizado mais, digamos, com o chamado “cinema de arte”, “Pedregulhos” mostra a ira incontida de um homem abandonado pela mulher e sua ferocidade em tentar recuperá-la. Em sua postura machista conduzida pela violência, sua primeira atitude é forçar a intermediação do filho pequeno nesta tentativa de reconquista. O que – para o protagonista – se assemelha mais a uma reapropriação.

Assim, homem e criança empreendem, através de uma paupérrima região indiana, uma espécie de “road movie a pé”, onde a extrema aridez se espalha inexoravelmente tanto pela geografia quilométrica do lugar como pela história milenar das relações humanas comandadas pela misoginia e pela selvageria.

Produzido totalmente pela Índia – felizmente sem a coprodução de nenhuma nação colonialista – “Pedregulhos” é a estreia no roteiro e na direção de P.S. Vinothraj, um jovem ex-balconista de uma locadora de DVDs que se apaixonou pelo cinema assistindo a filmes durante seu trabalho.

Vencedor do Tigre de melhor filme no Festival de Roterdã, “Pedregulhos” está na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em cartaz até 3 de novembro. Saiba mais em https://45.mostra.org