PELA PRIMEIRA VEZ EM DVD NO BRASIL, “NAPOLEÃO” É OBRIGATÓRIO PARA CINÉFILOS, ESTUDANTES E ESTUDIOSOS DE CINEMA.  

Por Celso Sabadin.

Para os grandes fanáticos por cinema – que não são poucos – o épico lançamento do selo Obras-Primas do Cinema é daqueles para “se assistir de joelhos”, como se dizia antigamente: trata-se do clássico (e põe clássico nisso) “Napoleão”, de 1927, obra máxima de Abel Gance, um dos maiores nomes do Impressionismo Francês do período entre-guerras.

Revolucionário e completamente inovador para seu tempo (e, dependendo do ponto de vista, até para os tempos atuais), “Napoleão” usa e abusa de todos os recursos que as câmeras, os efeitos e a montagem da época podiam proporcionar a um cineasta. E caso as ferramentas do período não fossem suficientes, Gance criava as suas próprias, mesmo durante a produção, sem interromper o ritmo das filmagens.

Formalmente, o filme apresenta inovações estéticas e visuais que provocam grande impacto até nas plateias contemporâneas. É quase inimaginável a profusão de planos e a velocidade dos cortes que os profissionais obtinham numa época em que sequer se sonhava como algo que pudesse ser parecido com um computador.

Gance já havia se consagrado como cineasta através de uma prolífica carreira que incluía o épico drama de guerra Eu Acuso! (1919) e o triângulo amoroso de contornos incestuosos A Roda (1923), quando concretizou este seu ambicioso projeto de levar às telas a saga bélica de Napoleão Bonaparte. Com um primeiro corte – que chegou a ser exibido publicamente – de duração superior a oito horas de projeção, Napoleão se inspirou no gigantismo da obra de Griffith (outro autor fundamental também lançado pelo selo Obras Primas) para contar a história do famoso personagem histórico com todas as inovações técnicas possíveis na época, inclusive experimentos pioneiros em 3D, que não chegaram a ser aproveitados. Cortes rápidos, enquadramentos diferenciados, sobreposições de dezenas de imagens como nunca havia sido feito antes, ritmo frenético nas cenas de batalha, divisões do quadro e – principalmente – um final grandioso onde a tela se divide num tríptico que pode ser comparado ao que o sistema Cinerama só faria cerca de 30 anos mais tarde, elevaram o filme à categoria de clássico imortal.

Gance atuou como roteirista e diretor até seus 82 anos. Dirigiu 45 longas e sete curtas entre 1911 e 1972, incluindo dois telefilmes. Faleceu em 1981, aos 92 anos. Seu Napoleão passou por vários processos de restauração que resultaram em cópias de vídeo, DVD e Blu-ray cujas durações variam de 222 a 333 minutos.

A versão lançada agora em DVD pelo selo Obras Primas do Cinema é a mais longa (333 minutos), magnificamente restaurada, e com trilha sonora desenvolvida por Carl Davis especialmente para esta restauração britânica.

A edição – inédita no Brasil – traz Digipak com 2 discos, 2 cards e 100 minutos de extras igualmente inéditos, incluindo um documentário com o compositor Carl Davis, e um fascinante documentário Abel Gance: The Charm of Dynamite, dirigido por Kevin Brownlow, o mesmo do ótimo O Chaplin que Ninguém Viu. E por falar em Chaplin, “Napoleão” faz o que Chaplin sempre sonhou e jamais conseguiu: realizar um filme grandioso sobre esta personalidade tão controversa que foi Napoleão Bonaparte. Melhor para Abel Gance.