PELA PRIMEIRA VEZ EM DVD, TRILOGIA “GUERRA E HUMANIDADE” É ITEM HISTÓRICO FUNDAMENTAL EM QUALQUER COLEÇÃO.  

Por Celso Sabadin.

O cineasta japonês Masaki Kobayashi é pouco ou nada conhecido no Brasil. E olha que entre diretores, produtores e atores há pelo menos meia dúzia de profissionais do cinema japonês exatamente com este mesmo nome. Mas estamos falando especificamente do diretor Masaki Kobayashi nascido em 1916 e morto em 96, um dos poucos da história do cinema a ser premiados nos três maiores festivais do mundo: Cannes, Veneza e Berlim.  É dele, entre vários outros filmes, a direção da exuberante trilogia  “Guerra e Humanidade”, lançada agora em DVD pela primeira vez no mercado brasileiro.

Distribuída pelo selo Obras Primas”, a trilogia chega às lojas em embalagem caprichada, imagem perfeita, remasterizada e, o melhor de tudo, completa com quase dez horas de duração. Além de mais de uma hora de vídeos extras.

A saga tem início durante a Segunda Guerra Mundial, quando o jovem administrador Kaji (Tatsuya Nakadai) apresenta ao seu chefe um relatório reportando as más condições de trabalho nas minas de ferro da empresa. O patrão até aprova o relatório, mas teme pelo seu funcionário que, ao propor um tratamento mais humanista e melhores condições aos mineradores, poderá ser taxado de comunista pelos seus superiores. Ambos então fazem um acordo: Kaji será enviado para a região das minas, onde teria a oportunidade de implantar seu plano de trabalho, e em contrapartida seu patrão daria um jeito do rapaz não ser convocado para a guerra. Kaji se entusiasma, pois esta seria sua grande chance de iniciar uma nova fase em sua carreira e se casar com a namorada Michiko (Michiyo Aratama) sem ser atormentado pelo constante medo da convocação.

E assim acontece: Kaji e Michiko se casam e começam a vida a dois nas minas de ferro da empresa. É ali que os problemas começam. Os mineiros são tratados como escravos, a violência impera, os administradores são corruptos, e como se tudo isso não bastasse as minas estão localizadas na Manchúria, região chinesa que poucos anos antes havia sido invadida e ocupada pelo Japão. Com o tempero do ódio, do racismo e da intolerância, o lugar é um barril de pólvora.

O disco 1 traz o filme “Não há Amor Maior”, de 206 minutos, mostrando os primeiros passos da saga de Kaji e Michiko. No segundo disco, “Estrada Para a Eternidade”, de 177 minutos, o conflito mundial estoura de forma mais intensa na vida do casal. Ambos os filmes foram produzidos em 1959. A trilogia se encerra com “Uma Prece de Soldado”, de 190 minutos, produzido em 1961, que ocupa o terceiro disco e retrata o drama de Kaji já engajado na guerra e como sobrevivente de sua unidade que se rende ao Exército Soviético.

O estilo narrativo da trilogia une o clássico ao épico, e é de um apuro técnico dos mais notáveis. Mesmo resvalando no melodrama, como o próprio assunto favorece, a trilogia traz um forte impacto humanista e pacifista, e seu temas aliados à corrupção e à intolerância cultural a tornam de caráter sempre atual.

Tatsuya Nakadai, o ator principal, atualmente com 84 anos de idade, continua em atividade no cinema e na televisão japoneses, contabilizando mais de 150 obras em seu currículo. Por enquanto.

“Guerra e Humanidade” é item obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo que se preze.