“PEQUENA MAMÃE”, UM OÁSIS DE TERNURA E AFETOS.

Por Celso Sabadin.

A roteirista e diretora Céline Sciamma, que havia mostrado imensa sensibilidade ao investigar o universo feminino em “Retrato de uma Jovem em Chamas”, repete a dose agora em seu novo trabalho, “Pequena Mamãe”. O tema continua sendo o universo feminino, mas desta vez com um enfoque bastante diferente que o exibido em seu longa anterior.

Tudo acontece sob o ponto de vista da pequena Nelly (a incrível estreante Joséphine Sanz), que acaba de perder sua avó. Junto com os pais, ela começa a desocupar e limpar a antiga propriedade da avó recém-falecida, onde acaba por encontrar um imenso e fascinante mundo de emoções do passado que a liga à sua mãe. Um mergulho tão intenso e profundo que borra as fronteiras da realidade e da imaginação.

Transitar com poesia e desenvoltura pela finíssima linha que separa – se é que separa – o concreto do improvável é um dos maiores méritos do filme. Com muita sensibilidade e oníricos tempos estendidos de espera e reflexão, Sciamma une magistralmente as emoções que emanam tanto dos porões afetivos da memória dos adultos, como da incessante busca curiosa da infância.

O resultado é a proposta de uma viagem temporal praticamente impossível de ser recusada.

O filme é tão focado no universo infantil que os protagonistas adultos, vividos por Nina Meurisse e Stéphane Varupenne, sequer têm nome, sendo identificados apenas por mamãe e papai. E Gabrielle Sanzs, no papel de Marion, é irmã gêmea na vida real de Josephine.

Selecionado para a mostra competitiva de Berlim, e vencedor do prêmio de público em San Sebastian, “Pequena Mamãe” é um oásis de emoção e poesia num circuito cinematográfico (e num momento histórico também) dominado por temas de violência e destruição.