“PEQUENAS HISTÓRIAS” TRAZ POESIA, HUMOR E MUITA BRASILIDADE.

Já faz nove anos que o cineasta mineiro Helvécio Ratton encantou as platéias com a versão cinematográfica do clássico da literatura infantil “O Menino Maluquinho”. Depois, ele mostrou sua versatilidade ao dirigir o romântico “Amor & Cia.”, o irregular “Uma Onda no Ar” e o forte “Batismo de Sangue”. Agora, Ratton retorna ao universo da “mineirice” e da simplicidade com “Pequenas Histórias”. O título é dos mais honestos. A proposta do trabalho é exatamente contar quatro pequenas histórias que unem elementos de humor, magia, poesia e brasilidade, e que possam ser acompanhadas por toda a família.

Quem une os contos é Marieta Severo, que simbolicamente tece bordados e retalhos numa grande varanda de uma casa de fazenda, enquanto se dirige diretamente à platéia para desfiar as quatro historietas.

Na primeira, um pescador vê sua sorte mudar ao se casar com a belíssima figura folclórica de Iara. Mas ele não saberá retribuir os favores desta verdadeira sereia. Na segunda, um garoto forçado a trabalhar como coroinha da igreja se apavora com as lendas (ou não?) da comunidade religiosa local. Na terceira, um ator decadente se vê obrigado a trabalhar como Papai Noel de loja para pagar o aluguel. E na última, um caipira extremamente ingênuo é presa fácil para os espertalhões da cidade.

Todas as histórias são despretensiosas, fáceis de acompanhar, e se mostram claramente criadas e dirigidas para atingir o grande público, sem que para isso seja necessário nivelar a qualidade por baixo. Há toques poéticos, românticos e cômicos em todo o filme, e seguramente cada parte da platéia se identificará com uma ou duas delas. Os episódios do Papai Noel e do caipira ingênuo talvez tivessem mais força se fossem encerrados alguns minutinhos antes, e também fica claro o desnível de qualidade do elenco, que mistura grandes nomes (Paulo José, Gero Camilo, Patrícia Pillar, por exemplo) com outros, nem tanto.

Mas nada disso é suficiente para tirar os méritos deste filme autêntico, extremamente simpático, bem realizado, e que busca o tão desejado diálogo com o público, fato cada vez mais heróico num país cujo preço dos ingressos de cinema é tão caro.