“PERFUME DE GARDÊNIAS”, O FANTÁSTICO SHOW DA MORTE.  

Por Celso Sabadin.

Após perder o marido, com quem estava casada há mais de meio século, Isabel (Luz María Rondón) descobre que tem um talento especial, muito apreciado por suas amigas:  a decoração de velórios e cerimônias fúnebres. Para superar o luto, ela se lança com dedicação à atividade recém-descoberta, mas logo percebe que há um pequeno entrave a ser resolvido: para não lhe faltar serviço, é preciso que as pessoas morram.

O tema da morte é encarado de diferentes formas, por diferentes culturas. Haja visto, por exemplo, as festividades de Finados realizadas pelo México. “Perfume de Gardênias” não é um filme mexicano – é de Porto Rico – mas latinamente também tem sua maneira muito particular de enfocar o assunto: no caso, com extrema ironia.

Neste estranho mundo contemporâneo onde até a revelação do sexo de um feto se transformou em espetáculo a ser explorado pelo vazio existencial das elites, por que não fazer o mesmo com os funerais? Na era da espetacularização e da monetarização de todos os aspectos da vida, por que não “morrer feliz”, como propõe o filme? Sarcasticamente, é claro.

Afinal, há quase 50 anos a então ficção científica “No Mundo de 2020” já propunha uma instalação oficial e especial para produzir a morte espontânea e “bela” de quem deliberadamente desistisse de viver. Se tal atividade puder ser capitalizada, talvez o futuro já tenha chegado.

No universo de “Perfume de Gardênias” toda esta questão é colocada com uma refinada mistura de dor e humor, de crítica e sarcasmo, emoldurada por um prosaico bairro portorriquenho de classe média. A mesma classe média que adora uma espetacularizaçãozinha midiática de qualquer coisa.

Uma promissora estreia na direção de longas ficcionais de Gisela Rosario Ramos.

“Perfume de Gardênias” é um dos destaques da programação do 31º CineCeará, em cartaz presencial e virtualmente até amanhã, 3 de dezembro. Saiba mais em https://www.cineceara.com