PERSONAGENS BEM CONSTRUÍDOS SÃO O GRANDE TRUNFO DE “RUSH”.

O mundo da Fórmula 1 não é exatamente o preferido dos norte-americanos, mais afetos à Fórmula Indy (ainda é este o nome, Indy?). Assim, foi um pouco estranho quando Ron Howard, que dirigiu filmes americaníssimos como “Apollo 13” e “Frost/Nixon”, foi anunciado como o diretor de uma história tão europeia como “Rush”. O receio se mostrou infundado: coproduzido por Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, “Rush” une o que há de bom na dramaturgia europeia com o que há de eficiente na estética aventura/efeitos norte-americana. O resultado é um filme que envolve pelos conflitos pessoais, ao mesmo tempo em que eletriza pelas cenas de corridas, entre as mais bem realizadas em todos os tempos, neste segmento.

Parte da história do filme é contada no livro “Corrida Para a Glória”, escrito pelo inglês Tom Rubython, editor e jornalista especializado em Fórmula 1, e também autor de uma biografia sobre Ayrton Senna. De acordo com o site especializado em cinema Imdb, o filme não é adaptado do livro, mas sim de um roteiro original escrito por outro britânico, Peter Morgan (de “A Rainha” e “O Último Rei da Escócia”) que fala da mesma história. De qualquer maneira, a trama se centraliza na forte rivalidade entre o piloto austríaco Niki Lauda (vivido pelo alemão Daniel Brühl, de “Adeus, Lênin”) e o inglês James Hunt, interpretado pelo australiano Chris Hemsworth, mais conhecido como “Thor”.

Muito mais que uma rivalidade esportiva, o roteiro se apoia nas diferenças fortemente polarizadas entre dois estilos de ser e de viver. Hunt, bon-vivant, mulherengo e irresponsável, contra um Lauda técnico, calculista e exímio “afinador” de carros. Dois grandes personagens envolvidos nos milionários e charmosos bastidores do esporte mais caro do mundo tinha tudo para dar um ótimo filme. E deu mesmo. Ron Howard foi totalmente feliz ao construir protagonistas que, embora antagônicos, não caem nas armadilhas fáceis de mocinhos contra bandidos. São personagens multifacetados, críveis, que ao mesmo tempo em que gravitam no universo de semideuses do esporte e da mídia, são suscetíveis às mais comezinhas emoções humanas, incluindo raiva e inveja. O filme também acerta – e muito – em dar às cenas de ação precisamente o peso e o destaque que elas devem ter enquanto mecanismos de condução da narrativa dramatúrgica, e não o contrário, como quase sempre acontece em aventuras americanas.

Para os brasileiros, um momento em especial nos chama a atenção, e não de forma muito louvável, quando um executivo da McLaren se refere a “Fitti-Fucking-Paldi” e seu “Cooper-Fucking-Sucar”.