PIADA PRONTA: RATTON FAZ FILME SOBRE QUEIJO.

Não há como negar que estamos vivendo uma fase de ouro para o documentário brasileiro. Questões de público e distribuição a parte, o fato é que de alguns anos para cá existe uma verdadeira explosão de temas relacionados à história e à cultura brasileiras que têm recebido tratamento especial dos cineastas.

O mais recente deles é… o queijo. E por que não? Verdadeiro baluarte da cultura de Minas Gerais, o famoso “queijin” agora ganha um documentário só para ele. Um belo filme, aliás, que mostra não apenas as diferentes formas de fabricação e peculiaridades da deliciosa iguaria, como também expõe uma questão política que tem prejudicado o mercado dos fabricantes e artesãos mineiros: o queijo de Minas Gerais está “confinado” ao seu estado de origem, e não pode ser comercializado no restante do país.

Estes são alguns dos enfoques de “O Mineiro e o Queijo”, documentário de Helvécio Ratton, diretor de “O Menino Maluquinho”, “Batismo de Sangue” e “Pequenas Histórias”, entre outros. Com a simplicidade que o tema exige, o filme conta de forma direta e clara como a produção do Queijo Minas artesanal afeta diretamente nada menos que 30 mil famílias produtoras, no estado. Tombado como patrimônio nacional e produzido dentro de técnicas que se mantém praticamente inalteradas há mais de 200 anos, o Queijo Minas é mostrado no filme de Ratton (aliás, Ratton fazendo filme sobre queijo é piada pronta) tanto como produto de consumo, quanto como manifestação cultural.

O cineasta visita micro produtores que mostram os motivos pelos quais cada queijo é único e de personalidade diferenciada, quase como uma impressão digital, mostra as diferenciações no preparo em cada região do estado, sem se esquecer do trabalho desenvolvido pelos grandes laticínios. Paralelamente, levanta um interessante e inacreditável entrave burocrático, através do qual leis conflitantes impedem que o produtor mineiro venda seu queijo para outros estados do país.

Mais que um filme sobre laticínios, “O Mineiro e o Queijo” é uma bela aula sobre Brasil, o retrato de um conflito cultural que envolve produções artesanais centenárias contra novas exigências sanitárias, segundo os mineiros, arcaicas e artificialmente importadas de mercados internacionais.

A parte de toda esta polêmica, particularmente fiquei encantado ao saber que se diz que um queijo é “curado” quando ele deixa de estar “doente” por causa das bactérias.
Cada vez mais, cinema é cultura.