“PIEDADE” E UMA MENTIRA CHAMADA BRASIL.
Por Celso Sabadin.
“A gente passou anos aqui agarrados numa história que não existe. É mentira! É tudo mentira!”. O desabafo da matriarca Carminha (vivida por Fernanda Montenegro) abraça uma vastíssima gama de possibilidades, dentro do filme “Piedade”: desde as mentiras familiares mais íntimas das personagens envolvidas na trama, até às enormes falácias nacionais e estruturais que nos são impostas neste país, incluindo aí a chegada de Cabral e a privatização da Eletrobrás.
O estopim das grandes e pequenas enganações que compõem esta terra é a chegada no vilarejo de Piedade de um agente da Petrogreen, uma empresa que “está fodendo com o nosso presente para poder foder com o nosso futuro”, como diz – sabiamente, aliás – um dos personagens do filme.
A corporação é representada por Aurélio (Mateus Nachtergaele), que utiliza seu gigantesco poder de compra para desestabilizar o núcleo familiar composto por Dona Carminha, seus filhos Omar (Irandhir Santos) e Fátima (Mariana Ruggiero), e seu neto Ramsés (Francisco Assis). Não longe dali, Sandro (Cauã Reymond) e seu filho Marlon (Gabriel Leone) também serão afetados pelo jogo de Aurélio, fervoroso adepto do conhecido “dividir para governar”. Ou, no caso, para capitalizar, também conhecido como comprar e destruir.
Filmado no Porto Suape e Reserva do Paiva, em Pernambuco, “Piedade” tem roteiro de Hilton Lacerda (em colaboração com Anna Francisco), e direção de Cláudio Assis, nomes responsáveis – individualmente ou em dupla – por alguns dos mais instigantes filmes dos últimos 20 anos de cinema brasileiro, entre eles, Amarelo Manga, Baixio das Bestas, A Febre do Rato, Corpo Elétrico, Tatuagem, A Festa da Menina Morta e outros.
Em cartaz nos cinemas desde 5 de agosto.
10/08/2021.