“PIRIPKURA”, O ELO PERDIDO ENTRE O HUMANO E O DESTRUTIVO.

Por Celso Sabadin.

Um filme com sabor de suspense e toques de uma arqueologia antropológica raramente vista. Não, não é apenas “mais um documentário sobre índios”, e sim uma viagem sensorial às inescrutáveis entranhas do Brasil. O objetivo? “Simples”: penetrar na selva amazônica para encontrar dois homens. Não dois homens quaisquer, mas os dois únicos sobreviventes da comunidade Piripkura que não fazem questão alguma de serem encontrados.

Explicando melhor. Exterminados por fazendeiros, madeireiros e grileiros da Amazônia matogrossense, os Piripkuras se dispersaram e hoje, ao que se sabe, existem apenas três deles: Rita, que se mudou para Rondônia, aculturou-se, e aprendeu um pouco do português, e dois homens, familiares dela, que ainda vivem da maneira mais primitiva que se possa imaginar, em algum lugar daquela imensidão. Quase um elo perdido. Cabe a Jair Candor, funcionário da Funai, percorrer a selva em busca dos indígenas. Se não encontrá-los para provar que ainda estão vivos, as terras onde habitam deixarão de estar protegidas pela demarcação, e cairão nas mãos dos devastadores profissionais. Que não são poucos.

O filme acompanha o trabalho insano de Jair, um homem que afirma ter crescido numa cultura branca que permitia a matança indiscriminada de índios, pois eles “atrapalham o desenvolvimento do Brasil”. Nem o próprio Jair sabe dizer os motivos que o conscientizaram e que hoje o colocam “do lado dos índios”, segundo suas palavras. O fato é que o servidor desmente os mitos e preconceitos sobre a incompetência dos serviços públicos e – munido de facão, obstinação e uma equipe reduzida – entrega-se de corpo e alma à procura dos Piripkuras remanescentes, consciente da destruição que assolará o lugar, caso sua missão não seja cumprida.

É a busca por um tesouro perdido. Sem mapa. Não um tesouro de joias e ouro, mas de inestimável valor humano. O que há de mais primitivo e puro na alma humana em contraposição à exploração indiscriminada do que resta do nosso país, tudo emoldurado pelos sons, luzes e vegetações da Amazônia, faz de “Piripkura” um mergulho num universo em extinção. Um registro histórico e obrigatório, um grito de socorro de um tempo que muito breve não existirá mais.

Dirigido a seis mãos por Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge, “Piripkura” estreia dia 1º de março.