“PLANETA DOS MACACOS – O CONFRONTO” É BEM SUPERIOR À MÉDIA DOS DEMAIS BLOCKBUSTERS.

Duas maneiras bem diferentes de encarar “Planeta dos Macacos – O Confronto” me dividiram durante a exibição do filme.

A primeira, mais simples, é a cinematográfica. Trata-se realmente de um belo trabalho do diretor Matt Reeves (de “Cloverfeld – Monstro”), que soube agradar tanto aos fãs de um bom filme de ação e efeitos especiais, como também àqueles que preferem uma dramaturgia mais consistente.

A história se passa 10 anos após o anterior “Planeta dos Macacos – A Origem”, e retrata um momento de intrigante transição entre as espécies: restam poucos seres humanos na Terra, que se animalizam diante das precárias condições de vida, mas os macacos ainda não evoluíram totalmente.
O momento, na verdade, chega a ser mágico, ao contrapor a queda humana à evolução símia. Para tentar evitar a extinção, os sobreviventes humanos precisam a todo custo consertar uma represa que fica num terreno dominado pelos macacos. E os macacos, por sua vez (e com razão), nutrem uma total desconfiança contra os humanos, não tendo bons motivos para baixar a guarda e permitir a entrada deles em seu território.

Neste ambiente de extremos medo e insegurança, emerge a sábia figura do líder César (Andy Serkis), o macaco principal que vimos no experimento do filme anterior. Mesmo sabendo que tudo está assentado sobre um barril de pólvora que pode explodir com qualquer movimento em falso, César tem a habilidade suficiente para travar as necessárias negociações de paz. Ou pelo menos tentar.
Nesta primeira parte do filme, Reeves comprova sua grande habilidade para o suspense, prendendo com muita eficiência a atenção (e até a respiração) da plateia, ao mesmo tempo em que encanta com cenas impressionantes da dicotomia homem/macaco à qual a Terra se resumiu. Como raramente acontece, perde-se a noção do que é virtual e do que é real, do que é CGI (imagens geradas por computador) e do que é filmado de forma convencional. A integração beira a perfeição.
E ainda há espaço para o desenvolvimento de outras tramas que envolvem dramas familiares e uma shakespereana luta interna pelo Poder.

Mas o espectador quer ver um filme que tem (pelo menos em Português) a palavra “Confronto” em seu título. E ele não se decepcionará. Esgotados os recursos do suspense, todos muito bem explorados pela direção segura, a ação parte finalmente para a esperada guerra entre as forças que desde as primeiras cenas se colocaram sob forte tensão. E quando tudo explode na tela, os resultados continuam firmemente fiéis à dramaturgia proposta na primeira parte, não deixando, felizmente, que o filme desembeste para a pura e simples ostentação de correrias e efeitos, como muitas vezes acontece.
Após 130 minutos, o público sai do cinema com a sensação que viu um grande filme.

Há, porém, um segundo nível de leitura, como disse no começo do texto, que me soa um pouco incômodo. E como para abordar o tema terei de entregar um pouco do que acontece na trama, sugiro que quem não goste de spoilers não leia mais a partir daqui.

Percebo no filme um indesejado viés nacionalista, se pensarmos que a guerra, no final das contas, foi provocada pelos macacos, num momento em que os humanos já haviam conseguido contornar a crise. A guerra jamais é provocada pelos humanos, e parece escancarado aqui que “humano”, como não poderia deixar de ser, é um conceito fortemente identificado com o povo norte-americano, em contraposição ao macaco, visto aqui como estrangeiro, ou oponente, ou rival, ou tudo junto e misturado. Mesmo porque o centro de resistência humana fica nos EUA (os ícones da cidade de San Francisco são insistentemente martelados), e temos novamente a pétrea e perpétua presença da bandeira norte-americana numa cena-chave (seria algum tipo de lei que eles têm por lá?).

Em “Planeta dos Macacos – O Confronto” os humanos (americanos) nunca provocam, nunca atacam, só se defendem, enquanto os macacos (estrangeiros) não só invadem o depósito de armas, como também covarde e dissimuladamente matam dois humanos. Posteriormente, é um macaco que causa a traição que deflagra a guerra.
Viagem minha? Pode ser. Mas sabendo como desde sempre o cinema norte-americano utiliza seus filmes como forte difusor de mensagens ideológicas, talvez não seja uma viagem tão improvável.

Outra opção é esquecer disso tudo e curtir apenas a primeira e mais óbvia camada do filme.