“POESIA” JUSTIFICA SEU TÍTULO.

Mija (Jeong-hee Yoon, excelente) é uma simpática sexagenária que vive com seu neto adolescente num pequeno apartamento no interior da Coreia do Sul. Como sua aposentadoria não é suficiente, ela complementa a renda mensal como empregada doméstica de um senhor com dificuldades de locomoção. E ainda assim encontra tempo e energia para fazer um curso de Poesia. Elegante, Mija sempre ostenta um invejável sorriso, até o dia em que o suicídio de uma colega de seu neto vai desencadear uma série de acontecimentos que abalarão o até então sossegado cotidiano de Mija.

Premiado como melhor roteiro no Festival de Cannes, “Poesia” é um filme que discute valores. Ou a falta deles. A protagonista é uma mulher envolta pela sua época, supostamente mais simples e mais ética que os tempos atuais. Sua vida espartana não lhe tira a elegância de suas roupas, seu sorriso, muito menos sua dignidade. Mas com a força e a inexorabilidade de um rio (metáfora presente da primeira à última cena do filme), a falta de ética e de caráter, onde tudo pode ser comprado, invade sua vida de forma devastadora. De maneira dolorida, ela percebe que existe um preço para tudo.

O roteirista e diretor Lee Chang-dong conduz o drama com a leveza que o própro título “Poesia” sugere. A mesma poesia que Mija tentará descobrir no transcorrer de toda a trama e que, num final belissimo (não, não vamos contar), projeta sua própria dor na dor de uma pessoa que jamais conheceu.

Repare no belíssimo trabalho de Jeong-hee Yoon, veterana atriz coreana que já atuou em quase 200 trabalhos, e que estava afastada das telas desde 1994.