“PRAIA DA SAUDADE”: ALERTA PARA O FIM DO MUNDO.

Por Celso Sabadin. 

A Praia da Saudade, no Rio de Janeiro (existem algumas homônimas pelo Brasil), não existe mais. Localizada onde atualmente é a entrada do bairro da Urca, ela começou a expulsar seus pescadores e a ser urbanizada por volta de 1850, com a inauguração do Hospício Pedro II, em seus arredores. Depois disso, ela até chegou a ser palco de competições de regatas, mas em 1908, por conta de uma exposição comemorativa do primeiro centenário da abertura dos portos do Brasil, ela foi aterrada para a construção de um punhado de pavilhões em alvenaria que abrigavam as festividades.

Esta história é contada – com belas e importantes imagens de arquivo – no documentário “Praia da Saudade”. Mas só em seus primeiros minutos. Depois, o filme amplifica este caso pontual de destruição da natureza para estender o tema a outras praias e florestas do Brasil e do mundo. E o longa “Praia da Saudade” se transforma num grito de socorro.

Partindo do particular para o geral, o filme se apoia em depoimentos da líder indígena Sonia Guajajara e do neurocientista e biólogo Sidarta Ribeiro para denunciar/lamentar/alertar sobre como a infinita ganância empresarial tem destruído o planeta de maneira irreversível.

O filme não opta pelo didatismo, nem por explanações numéricas, tampouco por elaborações teóricas. Ele mostra. O registro aqui é poético, fazendo desfilar pela tela imagens de impacto desta nossa contemporaneidade que a cada dia que passa mais se assemelha àquilo que o nosso imaginário registra como o fim do mundo.

Sublinhando o desconforto, uma trilha sonora fragmentada e eclética potencializa as dissonâncias desta atualidade apocalíptica, colocando no mesmo caldeirão tanto os sons dos povos originários colonizados à beira da destruição, como composições eruditas assinadas por músicos oriundos dos países destruidores.

Uma frase em especial, pinçada de algum material audiovisual antigo (com aquele pomposo estilo de narração de outrora), me chama a atenção. Diz o locutor: “Uma das mais belas do mundo, a Baía da Guanabara comove os olhos humanos há quatro séculos”. Sim, para o solene repórter, os olhos indígenas – por ali presentes há milênios – sequer poderiam ser considerados “humanos”. Haja racismo estrutural!

Dirigido por Sinai Sganzerla, “Praia da Saudade” entra em cartaz em cinemas no próximo dia 11 de janeiro.