“PRAZER, CAMARADAS!”: CONTINUA SENDO BONITA A FESTA, PÁ!

Por Celso Sabadin.

“Prazer, Camaradas!” é um documentário sobre o momento social português dos anos 1970. Mas com todas as imagens feitas agora. Explico: em 1975, depois da Revolução dos Cravos, em Portugal, muitos estrangeiros e portugueses do norte viajaram até a região central do país para ajudar nas cooperativas que começaram a ser formadas ali, naquele importante momento histórico.  A ideia do cineasta José Filipe Costa foi retomar, hoje, as emoções da época, com as pessoas da época revivendo o clima e os relacionamentos da época.

“Prazer, Camaradas!” nasce assim de um conjunto de relatos orais, textos literários e diários sobre essa experiência, agora revivida e reencenada por portugueses vindos das aldeias e por estrangeiros que eram chamados de “turistas revolucionários”.

Trata-se de autorreflexão atualizada sobre a Revolução dos Cravos, fundamental para Portugal não apenas política como também social, comportamental e humanisticamente.

“Procurei dramatizar memórias que nos mostrassem onde estamos nós hoje, em termos de costumes, comportamentos, moral sexual. Acredito que não há um passado desligado daquilo que somos no presente e brincar com essas memórias foi uma forma de revelar como nos situamos no presente”, afirmou o cineasta à imprensa portuguesa.

Tais reencenações situam-se mais no campo documental que no ficcional, posto que o longa mistura habilmente ambas as linguagens, interferindo pouco ou quase nada nos diálogos, e não permitindo novas tomadas do que já fora inicialmente gravado, aproveitando assim o calor do momento.

Os personagens retomam suas antigas histórias como se estivessem acontecendo hoje, criando um intrigante e até divertido jogo entre o passado e o presente, ao mesmo tempo em que celebram as conquistas das revoluções sociais e lamentam o que ainda não foi alcançado. “Ainda estamos perante a questão da submissão da mulher, da violência doméstica, da desigualdade salarial. Ainda estamos perante uma série de questões que nos devem despertar para a luta.”, afirma o cineasta. A premissa da recriação provoca a autocrítica da contemporaneidade.

Indicado ao prestigioso Grieson Award de melhor documentário  no Festival de Londres, “Prazer, Camaradas!” estreia nesta quinta, 15 de julho.

15/07/2021