“PRECIOSA”: ÓTIMAS INTERPRETAÇÕES E TRAMA EMOCIONANTE.

Claireece “Preciosa” Jones é uma adolescente sonhadora. Em seus devaneios, ela se imagina uma badalada pop star, ou uma famosíssima atriz de cinema. Mas, pensando bem, qual a garota que não sonha um pouco com isso, mesmo que seja por brincadeira? A diferença é que “Preciosa” é pobre, negra, extremamente gorda, apanha da mãe, está grávida do segundo filho, e traz uma história de vida inacreditavelmente sofrida. Ao se imaginar rica e famosa, ela não está apenas tendo um ingênuo sonho juvenil. Mas sim fazendo o máximo que pode para fugir da própria realidade.

A boa notícia é que o diretor Lee Daniels soube trabalhar todos estes “perigosos” elementos do filme – racismo, pobreza, injustiça social, violência doméstica, abuso sexual – sem cair no piegas nem na exploração barata dos sentimentos em uma cena sequer. Tudo é dirigido com extrema dignidade, um profundo senso de realismo e – claro – emoção.

Totalmente estreante, Gabourney Sidibe no papel principal do filme é um verdadeiro achado. Com olhar perdido, voz macante e ar de quem não sabe o que está fazendo neste mundo, a garota dá à sua personagem um incrível senso de alienação que mais tarde perceberemos não ser exatamente um descaso diante da vida, mas sim um escudo, uma crosta criada pelas feridas do mundo. No decorrer da trama seu personagem cresce, ganha auto estima. E nos momentos de sonho, a atriz se transmuta totalmente. Vira outra, bem diante dos nossos olhos.
Gabourney tem 26 anos e convence completamente interpretando uma estudante de 15. Filha de mãe professora (que desistiu da profissão para cantar nas ruas e estações de metrô de Nova York) e pai chofer de táxi, ela nasceu no Brooklyn, cresceu no Harlem e formou-se em Psicologia. Não tinha grande interesse na carreira artística, até ser convidada por uma amiga para fazer um teste para o papel de Preciosa. Deu no que deu: uma indicação ao Oscar de atriz.

Mas não é só ela. O filme é magistralmente interpretado por todo o elenco, seja ele principal, coadjuvante ou simples figurações, ratificando-se assim ainda mais os méritos da direção. Paula Patton rouba a cena como a professora (divertidamente) chamada de Blu Rain, as colegas da escola são geniais, e Mo´Nique obteve uma idicação ao Oscar de coadjuvante como a mãe da Preciosa.

“Preciosa” chamou a atenção da apresentadora de TV Oprah Winfrey, que se dispôs a promovê-lo e divulgá-lo, e acabou ganhando crédito na ficha técnica como produtora executiva.

Baseado no livro Push, publicado em 1996 pela escritora Saphiffe, “Preciosa – Uma História de Esprança” já acumula 44 prêmios e 58 indicações pelo mundo. Por enquanto.