PREMIADO `SNOW MOVIE` NÓRDICO “TERRA DE DEUS” CHEGA AOS CINEMAS.

Por Celso Sabadin

Há filmes baseados em tudo. Em livros, peças de teatro, casos reais, notícias de jornais, e até em brinquedos. “Terra de Deus”, por exemplo, é baseado em um conjunto de fotografias. Mais precisamente em sete fotografias encontradas numa antiga caixa de madeira, em uma região remota e congelada da Islândia. A partir deste intrigante material, o premiado roteirista e diretor islandês Hlynur Pálmason criou a história deste belo e envolvente “Terra de Deus”.

A ação se passa no final do século 19, momento em que Lucas (Elliott Crosset Hove), um jovem padre dinamarquês, empreende uma longa viagem a cavalo, rumo a Islândia. Um pequeno grupo de guias locais o acompanha. Num primeiro momento, não fica clara qual será – ou deveria ser – sua missão. Vê-se apenas que Lucas carrega consigo uma grande cruz e um pesado e delicado equipamento fotográfico.

Na verdade, como quase sempre acontece, a jornada em si é mais importante que seu destino. O padre e seus guias passarão por provações e dificuldades nesta via crucis congelada que conduz a narrativa.

A primeira delas é a própria barreira dos idiomas, na qual o islandês e o dinamarquês se apresentam como dificultadores do entendimento entre os personagens. As legendas em português contemplam igualmente ambas as línguas, colocando assim o espectador – privado da percepção do desentendimento linguístico – num terceiro nível de compreensão do filme. Ou incompreensão.

Barreiras e dificuldades paulatinamente minam o equilíbrio do protagonista, que passa por um processo de enfraquecimento de sua própria fé. Uma forte dicotomia entre forma e conteúdo é estabelecida com as belíssimas locações que imponentemente emolduram o colapso humano que está por vir. A impassível natureza testemunha sábia e silenciosamente a tragédia dos homens.

Contrapondo silêncios a acordes dissonantes, a trilha sonora amplifica o estranhamento dos descaminhos do protagonista, enquanto a janela de projeção opta pela antiga proporção 4 x 3, quase quadrada, provavelmente a mesma das fotografias perdidas que inspiraram o filme.

Mais para “snow movie” que para “road movie”, “Terra de Deus” tem colecionado importantes prêmios e indicações pelos festivais por onde passa. Entre eles, San Sebastián, Cineuropa, Munique, Londres e até Cannes, onde foi selecionado para a mostra Un Certain Regard.

Produzido por Dinamarca, Islândia, França e Suécia, “Terra de Deus” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta, 28 de setembro.

 

Quem é o roteirista/diretor

Hlynur Pálmason é um artista e cineasta nascido em 1984 na Islândia. Ele começou como artista visual e continuou sua carreira no cinema estudando na Escola Nacional de Cinema da Dinamarca. Seu filme de graduação, A PAINTER (2013), ganhou o prêmio de melhor curta-metragem no Odense IFF, Reykjavík IFF e foi indicado para a Academia Dinamarquesa de Cinema. Seu último curta-metragem, SEVEN BOATS (2014), estreou no Festival de Toronto. Seu longa de estreia, WINTER BROTHERS, foi exibido e premiado na competição principal do Festival de Locarno em 2017. Em seguida realizou UM DIA MUITO CLARO, vencedor do prêmio de Melhor Ator na Semana da Crítica do Festival de Cannes. TERRA DE DEUS é seu terceiro longa.