“PRIMITIVO” GARANTE DIVERSÃO RÁPIDA, RASTEIRA E DESCARTÁVEL

Pelo menos para o cinema, a África está na moda. Recentemente, o chamado continente negro tem sido cenário de filmes ótimos (“O Jardineiro Fiel”, “Hotel Ruanda”), medianos (“Diamante de Sangue”, “O Último Rei da Escócia”) e descartáveis (“Caçados”). Adicione-se agora mais um à lista dos descartáveis: “Primitivo”, aventura baseada em casos supostamente reais. Acredite ou não, a trama fala de um crocodilo gigantesco que estaria aterrorizando a população de Burundi (embora as locações tenham sido realizadas na África do Sul). Uma equipe de reportagem norte-americana parte então para o local, na tentativa não só de desvendar o mistério, como também de capturar o tal jacarezão.
Todos os clichês do gênero estão no filme. A África é sempre um lugar corrupto, miserável e totalmente subdesenvolvido, que só existe para ser quintal do civilizadíssimo e refinado norte-americano que vai até lá para tentar colocar um pouco de ordem naquela bagunça. O jacaré monstruoso está lá para ser capturado e levado à civilização, como acontece desde 1933, com “King Kong”. A equipe que vai tentar domar o bicho é composta por uma mulher bonita, um negro divertido, um ajudante nativo e um sujeito metido a galã. Como sempre. E assim por diante. É um filme com gosto de “já vi este filme antes’.
Para quem busca uma diversão rasteira, livre, leve e solta, “Primitivo” cumpre a sua função de ser uma Sessão da Tarde. Ainda que o tal jacaré demore uns bons 50 minutos até aparecer inteiro na tela. Os melhores momentos ficam por conta do cinegrafista Steven (personagem de Orlando Jones), que diz coisas como “antigamente os negros africanos imigravam para os Estados Unidos como escravos em navios negreiros… hoje é tudo bem mais difícil…”.
Repare também em duas cenas gritantes de merchandising explícito. Na primeira, Steven faz pose de atleta e dispara a correr no meio da savana africana, fugindo desesperadamente do jacaré… e usando uma vistosa camiseta com o logo da Nike. E na segunda, a personagem Aviva diz: “É impossível estarmos atolados. Estamos num Range Rover”. Precisa mais?
A direção é de Michael Katleman, estreando no cinema após mais de dez anos dirigindo seriados de TV.