“PROJETO FLÓRIDA”, À MARGEM DA MARGEM.

Por Celso Sabadin.

Quem já viu alguns dos filmes do novaiorquino Sean Baker (“Uma Estranha Amizade” e “Tangerine”, por exemplos), sabe que o registro intimista e naturalista dos excluídos forma o seu tema principal. Fiel à (boa) obra que tem construído desde 2000, Baker surge mais maduro e consistente no tocante “Projeto Flórida”, filme que dirige e corroteiriza em parceria com seu habitual colaborador Chris Bergoch.

Desta vez suas lentes se voltam para um condomínio popular na Flórida. As cores berrantes e luminosas do lugar se chocam com a cinzenta realidade de seus habitantes, homens, mulheres e crianças que vivem à margem do sonho norte-americano de felicidade e realização através do consumo. “À margem”, neste caso, literalmente falando, pois tudo acontece nos arredores dos famosos parques temáticos daquele estado, verdadeiros vendedores de ilusões dissociados de qualquer tipo de verdade. Como diz um dos personagens, no final do arco-íris existe, sim, um pote de ouro, mas também existe um duende malvado que não deixará ninguém alcançá-lo. Está estabelecido o paradoxo.

É neste contexto de hipocrisia social que “Projeto Flórida” acompanha a trajetória de Halley (Bria Vinale) e da pequena Moonie (Brooklyn Kimberly Prince), mãe e filha que recusam os padrões tradicionais de comportamento e se colocam ainda mais à margem do que já é marginalizado. Em meio a pequenos e grandes delitos do dia-a-dia, Bobby (Willem Dafoe) tenta administrar este recorte de sociedade com alguma disciplina, muita dedicação, e a doçura necessária para tornar tal convivência minimamente suportável.

Fiel ao seu estilo guerrilheiro e quase documental de filmar, o diretor captou as cenas da Disney com telefone celular (e sem autorização), e incorporou o incessante sobe-e-desce de helicópteros ao roteiro, pois não havia verba nem estrutura suficiente para solicitar a interrupção temporária dos voos no lugar.

Agridoce, “Projeto Flórida” estreou em 1º de março.