“PROJETO X” NÃO É TODO ESTE LIXO QUE APARENTA SER.
Atenção: este texto vai contar o final do filme “Projeto X”. Seria impossível desenvolver o raciocínio a seguir, sem fazê-lo. “Projeto X” é um filme que começa, se desenvolve e chega quase ao seu final de maneira extremamente tediosa. Mostra três adolescentes que vão dar uma mega festa apenas para tentar ser populares na escola. A estética proposta é a mesma de “Cloverfiel”, ou seja, tudo – ou quase – é mostrado sob o ponto de vista de uma única câmera, supostamente documental. Em outras palavras, os primeiros 75% do filme são nada mais nada menos que uma indigesta mistura de “A Bruxa de Blair” com ”American Pie”. Piadas grosseiras, bullying, adolescentes losers, piriguetes, tudo aquilo que o cinema já se encarregou de mostrar, ao pintar um painel doentio da jovem sociedade norte-americana.
Porém, quando “Projeto X” chega ao seu quarto final, acontece uma virada inesperada: ele se torna uma virulenta crítica a tudo o que ele mesmo retratou até o momento. A tal festa foge do controle dos anfitriões e se transforma num feroz e violento campo de batalha entre a polícia e os jovens. Uma verdadeira guerra de rua onde centenas de adolescentes se revoltam contra a presença policial. E se revoltam por que? Ideologia? Liberdade? Esquece! Estamos no século 21, momento em que as ideologias não existem mais e os ídolos são apenas subprodutos da indústria de consumo cultural. Os jovens só se revoltam porque estão bêbados e drogados. A revolta traz violência, e a violência, é claro, traz a mídia. Casas queimadas, carros destruídos, brigas ensandecidas, destruição. Tudo isso, nesta sociedade doentia, é sinal de sucesso: a festa foi parar na televisão, o que basta para que seus promotores sejam imediatamente alçados à condição de celebridades. Eles são agora novos reis da escola.
Se há consequências mais graves, isso pouco importa. Importa apenas que, graças à contravenção vazia, despropositada e violenta, os objetivos foram alcançados: a fama a qualquer preço.
Tudo o que o filme constrói nos seus primeiros e insuportáveis ¾ da ação, ele desconstroi criticamente no quarto final, abrindo uma fascinante discussão sobre o grau de inconsequência e imbecilidade alcançado por parte desta nossa sociedade ocidental consumista. Claro que pouca gente vai querer prestar atenção nisso, e certamente esta leitura jamais passará pela cabeça do próprio formador da sociedade que o filme critica. Talvez nem roteirista e diretor tenham se atentado ao detalhe de sua própria obra. Até o respeitado site de cinema imdb classifica “Projeto X” apenas como “comedy”, fechando os olhos para todas as suas subleituras.
Também… quem está a fim de subleituras hoje em dia?

